Marilene Volpatti
É necessário alguma coisa a mais para manter o coração alimentado e desejando ficar junto da pessoa amada, para sempre.
Carla passou 24 anos num casamento onde sobrava amor mas faltava a paixão. Não pretende fazer isso novamente. Melhor: há dois anos, quando tudo acabou, com direito as dificuldades, – como saudade dos momentos bons que passou junto ao marido e até mesmo do hábito criado de viverem juntos -, prometeu a si mesma que se algum dia se envolvesse com outro homem teria que ser com muita paixão.
Embora não soubesse exatamente o que isso queria dizer, lembra-se muito bem do momento em que tomou tal decisão. Foi em sua casa, quando ouviu a irmã – casada há 28 anos – falar com o marido.
Ela foi visitá-la e logo que entrou, telefonou para ele. Queria contar que tinha chegado bem. Bastou o primeiro “oi” para que seu rosto iluminasse. E com sorriso de marota se aconchegou ao telefone e a cada resposta do marido seus olhos brilhavam. Carla pensou: “Isso não é só amor. É paixão também”. Percebeu naquele momento o que realmente faltava em sua vida, e decidiu não mais se privar daquilo que com certeza estava também, ao seu alcance.
Carla se culpava por ter deixado seu casamento virar rotina. Acreditava que não havia outra saída a não ser cuidar dos filhos e da casa. Iludiu-se. Esqueceu-se por completo de como era uma pessoa apaixonada e vibrante.
Não nega que no início da vida conjugal, teve momentos de não se desgrudar um do outro. Onde um beijo era sinônimo de sexo. Só que esse estado incontrolável é solitário, e não acrescenta coisa nenhuma ao relacionamento afetivo. Nessa ocasião o casal não dividia nada. Era cada um com seu objeto de desejo.
Crescimento
A paixão mesmo, é uma sintonia completa e especial. Pode haver afeição e compromisso entre o casal, mas, a grande maioria esquece-se de compartilhar suas experiências individuais. Evitam falar o que acontece no trabalho, talvez para não se depararem com um olhar um tanto quanto desinteressado do outro. Deixam de dividir idéias, talvez, pelo simples fato, de se irritar com o tom profissional do companheiro. Constroem barreiras, bloqueiam assuntos considerados perigosos e ignoram diferenças – tudo porque, a única preocupação é de manter um casamento. E, por acreditarem numa relação mais longínqua, mais que o próprio crescimento de cada indivíduo, é que começam a colecionar silêncios e a reprimir desejos. Escolhem a acomodação em vez de discutirem as diferenças. Chegam até a brigar – só que jamais tocam no que realmente importa: a incapacidade de ser o melhor amigo um do outro, a total falta de intimidade para partilhar até mesmo determinadas situações ou coisas ridículas.
Como ser apaixonado por alguém sem conhecê-lo intimamente, confiar e respeita-lo o suficiente para abrir, sem preconceitos, o coração? Há casamento onde só existe o respeito e mais nada. O marido ou esposa podem serem dignos, mas de nada adianta se só se censuram o tempo todo. O relacionamento fica difícil e tumultuado.
Acreditando na parceria
Depois de dois anos de insegurança e medos Carla conseguiu se entregar a uma nova experiência. Encontrou um homem maduro e disposto a correr riscos. Um indivíduo sem medo de se mostrar, a quem ela se entregou, também, sem medo. Juntos criaram um mundo onde ousaram viver suas emoções por inteiro, conquistando a cada momento a felicidade.
Vivem em estado de urgência. Necessitam ficarem juntos. É para ele que conta todas as suas paranóias e medos, sem correr o risco de ser um dia ridicularizada ou traída, pois ele age da mesma forma com ela. Ele a entende e dá corda para o assunto que estiver sendo colocado, não foge nunca da raia. Saem, vão passear, dançar, namorar no cinema. A vida é pródiga para eles. Existem no casal: cumplicidade, intimidade, respeito, sexo e as conversas – que a simples idéia de tudo isso acabar torna-se insuportável tanto para um como para o outro.
Vivendo intensamente
Para se viver bem, o casal não pode alimentar mal-entendidos crises de humor ou manipulações. Apareceu problemas, necessário se torna resolvê-los imediatamente, sem perder tempo culpando um ao outro. Se um dos dois se sentir abandonado, pelo fato de um estar trabalhando até mais tarde, não esconda. Fale francamente o que está sentindo. O outro não é obrigado a saber de seus sentimentos. Isso leva os parceiros a se conhecerem cada vez mais e melhor. É preciso se sentir seguro ao lado da pessoa que se vive o dia-a-dia.
Um dia, por razões que desconhecemos, tudo pode acabar. Mas jamais nos sentiremos idiotas por termos mergulhado em nossos sentimentos. Mesmo que soframos muito, pelo menos teremos crescido. Não seremos mais meros observadores da paixão alheia. Também saberemos o que é sentir emoção e isso ninguém pode nos tirar.
Feliz daquele que consegue ter a vida leve e solta, e não fica preso à alguém por alguma razão alheia a sua vontade.
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Coporal – FONE:- 236-9225.