Brinquedo novo
Após 23 anos de teatro, Michel Bercovitch se encanta com o universo televisivo
Texto: Fabíola Tavernard/PopTevê
Quando leu a sinopse de Ciro, seu personagem em “Alma Gêmea“, Michel Bercovitch teve pouquíssimas informações. O ator soube apenas que o motorista de Agnes, vivida por Elizabeth Savalla, guardava um segredo. Que segredo era esse, Michel nem desconfiava. Por isso mesmo, decidiu aguçar a curiosidade do público com um ar para lá de misterioso desde as primeiras cenas. “Acho que meus olhos grandes ajudaram. E o que as pessoas achavam que fosse mistério, na verdade era paixão pela patroa“, explica, com bom humor.
Ao que parece, a dose extra de suspense impressa pelo ator em seu primeiro personagem na tevê funcionou. Ciro ganhou importância na história, e hoje é um dos detetives que investigam os casos “sobrenaturais” da trama. Michel conta que faz até “exercícios” de investigação, procurando saber da vida dos outros personagens nos bastidores sem que eles percebam. “É como um jogo de adivinhação“, diz. Modesto, o ator atribui grande parte desse crescimento à generosidade do autor. Fã de carteirinha de Walcyr Carrasco, ele destaca sua capacidade de distribuir bem o peso da história, dando importância e “vida” própria a cada personagem. “Estou acostumado com dramaturgia de alto nível. É impressionante o talento que o Walcyr tem de manter aceso o interesse pela novela. “Alma Gêmea” é uma obra de arte“, exagera.
O costume com a boa dramaturgia a que ele se refere vem dos palcos. Michel, de 39 anos, é ator e diretor de teatro há 23, e há 10 fundou sua própria escola teatral, a Companhia Prática de Teatro, no Rio de Janeiro. Ele concorda com o fato de que muitos atores teatrais ainda têm preconceito com a tevê, e não faz parte do time de equivocados que acreditam que qualquer coisa em teatro possa ser considerada boa. “O teatro não garante que tudo esteja bom, e a tevê não é menos nobre. Tudo depende do que é apresentado“, filosofa. Também se apressa em elogiar a nova forma de interpretação que encontrou. “Fazer uma novela é ter a certeza de que, se fizer algo de que não gostei, vou voltar lá e ter outra chance“, avalia, antes de emendar. “Acho que o meu lado diretor atrapalha um pouco o meu ator, porque é exigente demais“, diverte-se.
A experiência como diretor também o ajuda a lidar com o difícil clima televisivo. Disputa de egos, perda de privacidade e assédio são coisas que Michel aprendeu a contornar por sempre ter convivido com pessoas que se julgam “importantes“. Mas garante que em “Alma Gêmea” encontrou um bom convívio com os colegas. “Sempre digo que como diretor sou astrólogo, porque trabalho com os astros“, brinca.
Sempre atarefadíssimo, Michel já tem vários projetos teatrais para o ano que vem. Uma delas é a peça “Beijo no Asfalto“, que já tem Emílio Orciollo Neto e Fernanda Machado confirmados. Ele dirige também o programa “Novos Nomes em Cena“, apresentado por Paulo Betti no Canal Brasil. Enfim, como ele mesmo diz, ficar sem trabalhar é a única coisa ruim de sua profissão. “Mas há 23 anos a minha rotina é uma loucura. Estou sempre trabalhando, e muito“, reforça.
Embora tenha passado pelo “choque” inicial com as técnicas de interpretação em tevê, como o posicionamento de câmaras, ele diz que tomou gosto pelo “sets” de gravação, e está disposto aceitar novos papéis, desde que sejam de qualidade. “Se eu soubesse que era tão divertida essa relação do ator, público e autor, já teria feito tevê há mais tempo“, declara.