Hoje, pela segunda vez, fui à Igreja de Nossa Senhora Aparecida. Pouca gente nesta terra conhece esta pequena igrejinha que fica no Caminho do Ouro, construída por Dona Maria do Vicente. Isso, há muito e muitos anos atrás por uma promessa feita. Quando menino eu morava bem em frente a tal igrejinha e foi lá que eu me preparei para a minha primeira comunhão e onde muita gente fazia suas entradas. Bem antes do Sr. Neves construir a Igreja de São Benedito (que dá umas dez da outra) também por promessa, dona Maria já tinha sua igrejinha para que o povo rezasse à vontade. Da igreja pra baixo quase nem existiam casas, era uma estrada de terra poerenta chamada caminho do ouro. Até atravessava este riozinho de águas transparentes onde a molecada da Vila nadava de dia ou quando ia buscar frutas do campo pois ali era quase tudo campo. A gente pescava com peneiras e logo depois da ponte havia dois túneis juntos e enormes por onde passava a Estrada de Ferro Paulista. Além de centenas de vagões de carga havia ainda luxuosos vagões de passageiros. Já naquela época se faziam muitas festas em favor de Nossa Senhora e os leilões eram famosos pois tudo quanto era tipo de animais estavam lá, dados por fazendeiros para serem arrematados. Tinha procissão e banda e então aquela pequena estrada de terra ficava lotada de gente dos sítios e fazendas vizinhos, além do povo da Vila porque a igreja de Santo Antonio ficava bem longe. Padres só nas festas pois quem tomava conta da igreja era o povo do local e principalmente Dona Maria. Minha irmã tem o nome dela. Naquela época nem se falava em laranjas. Havia pomares do povo, com baianas, mixirica fidida, laranja-lima, laranja azeda para doces e outras comuns. Era também uma estrada boiadeira por onde passavam carroças e carroções de boi. Bem depois da igreja existiam algumas chácaras de japoneses onde se colhiam frutas e muita verdura. Depois era campo, com mato onde muita gente tinha animais. De cerca, nem se falava. Lá era terra de um mundo aberto sem porteiras. O tempo foi passando, construíram São Benedito, os caminhões que paravam defronte a igreja foram sumindo, já não havia nem algodão e nem café para ser apanhados pelos trabalhadores da Vila. Chegou o progresso, ai chegou a cana de açúcar, as casas foram enchendo a estrada e dona Maria morreu.