Meu avô tinha uma fazenda, à beira do Rio Mogi Guaçú. Eu fui o seu companheiro de viagens, durante muito tempo, pois meus pais moravam na tal fazenda. Na realidade era um grande pesqueiro muito bem cevado e que recebia muitos pescadores de Araraquara. Aquilo parecia um grande hotel. Saímos de madrugada para o tal sítio e a estrada era rudimentar com muita terra e muita areia> Quando chovia era muito difícil ir até lá e quando não chovia tinha os areiões chegavam a quebrar a ponta do eixo dos carros.
As viagens eram muito interessantes, pois a gente encontrava uma grande quantidade de animais silvestres e da cabine da caminhonete era muito bom vê-los e admirá-los, pois a luz os ofuscava e as vezes era preciso apagá-las para que eles fossem para às matas que percorriam toda a estrada até ao sítio. Encontrávamos lobos-guarás aos bandos, jaguatiricas, onças pintadas e pardas atrás das suas presas, cachorros do mato, cobras enormes, coelhos e pacas, cotias… era muito selvagem a nossa estrada. Pássaros nem se dava conta de quantos haviam pela estrada afora.Tamanduás bandeiras e gigantes, lagartos, veados de todas as espécies… eu amava viajar com meu avô. Pois além de tudo ia com ele meu lanche, pois a fome chegava logo e meu avô me alimentava com o maior carinho.
Na entrada da fazenda tinha uma casa de um empregado que era cercada de areia e quase todos os dias tinha lá pegadas de onça. Certa vez minha mãe estava na casa do meu avô e alguma coisa me dizia que eu deveria ir junto com eles para a fazenda. Como eu era um menino esperto, peguei as cintas do meu pai, do meu avô e a minha e amarrei as minhas pernas nas da minha mãe para que eles não fossem sem mim. E dormi tranqüilo, quando levantei vi que estava sozinho na cama e que meu avô e minha mãe tinham ido embora. Minha avó encheu-me de desculpas mas eu não tive sossego desde que me levantei. À tarde meu avô voltou e disse que estava tudo muito bem. Eu não consegui dormir um minuto sequer preocupado com minha mãe, nem sei por quê. Às 4 horas da manhã ouvi um barulho das minhas tias e corri ver do que se tratava. Era minha mãe na carroceria dum caminhão, parecendo morta.
Foi para o hospital no carro do meu avô e demorou uma semana para que tivéssemos ela de volta para casa, foi envenenamento.