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Nhô Pedro

A primeira ansiedade chegou quando eu era criança e morávamos no sítio onde as mulheres faziam pão em casa e, geralmente, mandavam alguns para os vizinhos. E porque elas faziam os seus pães mandavam sempre com a desculpa que fizeram poucos…

Na realidade faziam muitos, mas, era o costume e todos falavam a mesma coisa. Devia ter na época uns 5 ou 6 anos e fui incumbido pela minha mãe para levar os pães para os vizinhos. Só que eu dava o pão e falava que ela fizera muitos e mandava eu falar que fizera poucos. Imagine uns dez vizinhos do sítio… quando acabei as entregas a minha mãe me bateu e disse que quando meu pai chegasse eu iria levar uma grande surra. Estava anoitecendo, em frente à minha casa tinha uma limeira que era selvagem e tinha só espinhos. Eu subi na limeira e quase morri de ansiedade esperando meu pai, e dormi.

Aos 10 anos meu avô tinha uma loja de tecidos em Barretos. O tempo que lá ficava eu morria de ansiedade pois tinha lá uma moça linda que me beijava na boca, morava com meus avós. O meu pai mudou-se para Catanduva… a vida na casa dos avós era um sonho, mas, tinha que ir morar com meus pais. A ansiedade foi tanta que fiquei doente. Só resolveu quando minha avó foi comigo prá lá e ficou um mês inteiro. A ansiedade da primeira vez em que os amigos me levaram pra zona: saímos nuns dez meninos, mas, lá só chegaram dois, eu e outro corajoso. A ansiedade dos exames da faculdade, quase me afogaram, mas, passou quando descobri que entrei em segundo lugar. A ansiedade dos amores, dos desencontros, das esperas que pareciam que nunca acabavam… só quando você pegava nas mãos da menina é que passava a tal ansiedade. Depois vem a do casamento, foi enorme e me judiou muito. Daí a primeira barriga e a ansiedade da espera pelo primeiro filho foi uma eternidade. Mas, acabou quando eu vi chorar o primeiro filho homem. Depois veio a do segundo, dolorosa também, outro filho homem e por fim o terceiro foi mais difícil de todas que acabou quando peguei o nenê no colo. Ele tinha os olhos da cor dos olhos do meu pai, azuis… totalmente azuis.

A ansiedade nunca me deixou em paz, pois, assisti aos três partos e assisti ao nascimento deles: todos com a ansiedade me corroendo.

A ansiedade continuou me acompanhando na medida em que os filhos iam crescendo e eu mudei-me para São Paulo onde no começo comi o pão que o Diabo amassou, só na ansiedade.

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