Nhô Pedro

O tempo passa como fumaça. Com esperança tudo se alcança, o meu dia chegará. Isso era cantado pelos calouros de Odontologia no meu tempo de faculdade. O tempo passou, veio a formatura… os primeiros clientes. Foi um tal de arrancar dentes sem parar. O tempo passou. Veio o casamento muito bonito e luxento. A vida andava e o tempo passava. Veio o primeiro filho, o segundo e o terceiro. A felicidade era real. Uma bela casa, uma família, enfim, coisa do tempo. O tempo me fez mudar de cidade e me levou para São Paulo. Uma luta inglória pela vida. Trabalho e mais trabalho, alegria e sofrimento: coisas do tempo. De repente, acabou o tal casamento, coisas também do tempo. Tudo virou e mudou. A luta para educar os filhos que me foram legados pela mãe. Se não fosse a minha mãe teria sido muito pior, mas passou. Eles cresceram e se formaram. O tempo me fez entrar numa segunda núpcias. Nova mulher e três filhos pequenos. O tempo me fez recomeçar a andar. O caminho era sempre árduo. Mas tudo que eu falava era o que deveria ser feito. O tempo passava e deixava tudo andar na maciota. O tempo me fez voltar à minha terra de nascimento. O tempo fez com que os filhos crescessem, se formassem e virassem gente. Mas aquela história de o tempo passa como fumaça, ficou no tempo. O meu dia estava sempre para chegar mas, nunca chegava. Agora tudo mudou. Depois de um determinado tempo, todos eles sabiam de tudo, menos eu. O relacionamento deles era uma maravilha. Se davam muito bem, inclusive comigo. Mas, na hora do vamos ver, eu esperava o tempo e eles realizavam tudo no seu devido tempo. Eu só iria saber no final. Tive uma promessa que seria independente um dia e acreditei, com toda minha força. Era uma questão de loteria, só que nem poderia jogar, eu tinha que indicar, orientar e dividir o resultado. Tempo desgraçado, alguns indicados receberam e eu nunca vi nada disso, só sabia para os outros. Hoje eu tenho uma vida tranqüila, não devo nada a ninguém, tenho boa saúde e acho que tenho ajudado muitas pessoas. Não aquela ajuda da casa transitória de São Paulo, onde trabalhei de graça, quase trinta anos com mulheres grávidas de favela e com excepcionais. Muita caridade fiz nos consultórios que tive na vida de profissional, mais a caridade dos passes e conselhos que dou, até hoje, esperando o meu dia chegar, esperando que o tempo não me esqueça e não me deixe sozinho. Cada filho numa cidade, longe de mim. Tempo não me faça assim, tenha pena de mim.

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