Nhô Pedro

Quando a chuva chega, depois de um dia infernal de calor. Quando as plantas murcham, quando a terra parece que foi queimada, quando a gente pensa que chegou ao fim da vida, quando os pássaros nem cantam, quando os insetos param de esvoaçar, quando os animais procuram uma sombra para se reconfortarem e, de repente, vem aquele vento maligno que derruba árvores e destelha casas, que assobia como um sinal de superioridade espalhando a poeira por todo mundo e nos cansa e aborrece, parece que houve um dilúvio. Tudo se transforma, tudo muda de figura. As coisas, que estavam sempre no mesmo lugar, chegam a parecer que desapareceram no tempo e no espaço.

A lembrança voa em busca da juventude onde tudo era graça e festa, onde nem a chuva e nem o vento atrapalhavam a vida. Naqueles bailes, cheios de ternura e esperança, falava-se de amor como se falava de qualquer coisa. Fazia-se declaração quando dois sonhavam juntos as mais tolas ilusões da vida e era tão real, tão certo que a gente se perdia naquilo com o maior entusiasmo e tensão. Quantos bailes caseiros, quantos encontros, quanto amor perdido nessas reuniões…E as matinês de nosso antigo cinema, as dos clubes da cidade sempre cheias de novidades, de lindas meninas cheias de graça e charme? Era o primeiro soutien, o primeiro esmalte, o primeiro baton, o primeiro encontro com aquele menino sonhado noites e dias. Quanta ilusão, quantas conversas tolas espalhadas pelos dois, como as de mil outros que lá estavam. O footing, enfrente ao Teatro Municipal, onde passavam todas as garotas de Araraquara e os rapazes flertando e parados até a hora de subir para a Rua 5 onde havia de tudo: desde o beijo lânguido e abraço apertado até outras coisas mais, tão importantes na época. Cada árvore e cada sombra dela eram ocupadas por casais jovens, numa luta de sonhos e emoções. Afinal, era tudo muito rápido porque existia hora estabelecida para chegar em casa e isso ninguém deixava de cumprir senão não haveria nova chance tão boa e prazerosa. Era hora e… pronto. Às vezes, nem dava tempo pra nada. Chegava-se e tocava-se nas mãos da garota. Mas, depois que elas iam embora, os jovens se reuniam para contar suas aventuras que nunca chegariam lá porque, qualquer deslize, o pai exigia o casório. Então, a festa era um beijo daqui e outro abraço dalí. Um apertão mais achegado e isso era tudo que um namorado sabia fazer sem se comprometer. De centenas de namorados, de então, alguns se casaram muito tempo depois. Aliás, uma insignificância daquele todo, com chuva ou sem chuva…

Compartilhe :

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Saiba o que será debatido e votado na Sessão Ordinária desta terça-feira (10)

Ato cívico marca o 7 de Setembro no Tiro de Guerra

Vôlei feminino sub-19 e sub-21 ganham duelos no Gigantão

Daae informa sobre interrupção de fornecimento de água

Daae informa sobre interrupção de fornecimento de água

CATEGORIAS