Nhô Pedro

A fazenda chama-se Piratininga e fica a 800 quilômetros de nossa cidade. De lá você vê perfeitamente os poços do Rio Quente, em toda a sua extensão. O dono da fazenda é sócio dos poços e a gente pode freqüentar aquela maravilha de Goiás. Existe na fazenda uma casa de mais de 100 anos que os caboclos afirmam que as telhas foram feitas nas coxas dos operários. São 6 janelas de cada lado e 4 na frente, com a porta de entrada. São 8 quartos, 2 salas enormes e um adendo atrás que é cozinha. Só tem um banheiro que fica no meio da casa.

A frente da casa dá para um curral onde as vacas são ordenhadas. São três homens que ficam na lida: o pai e dois filhos. Um deles vai pescar comigo, é o Divino. Uma criatura que nasceu santo, meio diferente dos outros seres. Tudo que planta, nasce. Tem algumas vacas que deixam somente ele tirar o leite. Tem uma relação de amizade com todos os animais. Pescador eficiente, nunca perde uma fisgada.

Os dois irmãos têm mais de 30 anos e nem sequer falam em casamento. A irmã deles, com metade da idade, já casou e tem dois filhos.

O Divino pesca sem lampião e anda pelo mato sem arma. E olhe que lá tem muita onça…

O patrão tinha levado para lá uma série de jumentos, que foram se procriando. Mas, as onças comeram quase todos. O Divino é chamado de Beato que, ao contrário daquele que vive na igreja, não sabe nem rezar. Mas, é tão bom, tão santo que chamamos de Beato e ponto.

Ele é o primeiro a se levantar. Tira leite e limpa a casa porque a mãe é meio doente. Depois ele vai cortar cana, que é toda moída para as vacas leiteiras. Termina o dia pescando, num rio que fica a 1 quilômetro de sua casa. E, como disse, sempre traz peixe porque tem mão mágica e um belo coração.

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