Vivemos tempos tormentosos. Há guerras em várias partes do mundo. Em nosso país, o cenário político e social é desolador. Entre denúncias de corrupção e de venalidade, resta pouca fé nos homens públicos. A impunidade instiga novos desmandos. O povo se mira nas figuras eminentes e procura encontrar no comportamento destas, justificativa para seus próprios equívocos. Levar vantagem parece um objetivo que se generaliza pelo corpo social. A idéia do sucesso como resultado de um esforço continuado e metódico torna-se pouco sedutora. O famoso “jeitinho brasileiro” não mais significa criatividade, mas, esperteza e falta de caráter. Muitos se indagam: haverá futuro para uma sociedade assim constituída? A história nos fornece inúmeros exemplos de civilizações que se corromperam. Em Roma, no período do Império, os costumes e os valores degeneraram. O filósofo e jurista Marco Túlio Cícero era profundamente angustiado com esse estado de coisas. Deixou inúmeros escritos que denotam sua preocupação com a corrupção que invadia a vida pública romana. Ele se preocupava com medidas populistas freqüentemente adotadas pelos governantes. Tais medidas atendiam a caprichos da multidão, mas sem educá-la ou destiná-la a trabalho útil. Quem trabalhava era fortemente tributado, a fim de que largos benefícios fossem concedidos pelo estado. Era, já naqueles tempos, a prática do assistencialismo, às custas dos contribuintes. Mas o que mais indignava Cícero era a corrupção e a troca de favores envolvendo o dinheiro público. Ao refletir sobre os vínculos fraternos, ele afirmou: “a primeira lei da amizade é não pedir nem conceder nada de vergonhoso”. Disse ser uma desculpa indigna, em qualquer falta, admitir que se agiu em favor de um amigo. Bem se percebe a semelhança com a situação brasileira atual. Ainda vivemos sob o regime do compadrio. O dinheiro público é rateado entre alguns, como se fosse particular. A humanidade evoluiu muito sob o prisma intelectual e científico, nesses dois milênios. Mas, embora algum avanço, permanece titubeante no que tange à moralidade. Em conseqüência, o mundo segue conturbado e carente de paz. Na verdade, todos sofremos em razão da falta de ética. A inadimplência faz com que os preços de produtos e serviços sejam maiores. O desvio do dinheiro público dificulta a construção de creches, escolas e hospitais. Se quisermos viver num mundo melhor, devemos nos empenhar em promover uma reforma ética. E toda mudança começa no indivíduo. Para que a sociedade melhore, cada um deve esforçar-se em se aprimorar. É imperativa a adoção de novos hábitos. Chega de procurar levar vantagem, de fugir dos próprios deveres. Basta de mentir, fraudar, sonegar e trair. O patrimônio público é sagrado e todos são responsáveis por ele. O dinheiro público não existe para ser apropriado por alguns, mas para atender demandas relevantes da coletividade. Impõe-se a severa fiscalização de sua utilização, como o cumprimento de um dever. Quando formarmos uma sociedade consciente de seus deveres, apenas por isso já desfrutaremos de grande tranqüilidade. Pensemos nisso! (G.E.)
Reflexão da Semana
“A primeira lei da amizade é não pedir nem conceder nada de vergonhoso”.
(Cicero)