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Mulheres encontram-se de olhos fechados

Marilene Volpatti

Estações quentes são as temporadas dos homens infiéis crônicos. Algumas mulheres suportam essas traições. Por quê?

Era comum ouvir, no tempo de nossas avós, quando uma mulher era traída: "Os homens são assim mesmo, querida". Hoje, depois da revolução feminina, ainda se ouve dizer que existem mulheres modernas e independentes, que toleram a infidelidade. Mas, quais os motivos que levam-nas a fechar os olhos para as traições? Umas preferem não enxergar em nome da "felicidade familiar"; outras, pela estabilidade financeira, preferem ver o marido com uma amante do que sofrer uma baixa no padrão de vida. Outras mantêm o pacto: cada um faz o quer e ninguém reclama. E existem, também, aquelas que encaram a infidelidade como um traço típico do caráter masculino, como se o homem já nascesse com esse defeito de fábrica.

Maria Augusta vê as escapulidas do marido como necessidade para sua auto-afirmação. "No fundo sei que ele me ama e quer ficar comigo", diz. "Nunca passou pela minha cabeça uma separação, mesmo sabendo que ele vive me traindo. Importa que ele seja carinhoso comigo e nossa filha", finalizou.

Na verdade essa tolerância nada mais é que um recurso de defesa. Ela usa para fugir do sentimento mais penoso, o ciúme. Se distancia da emoção para não entrar em contato com a dor. Quem coloca o ciúme embaixo do tapete, um dia pode tropeçar nele. A emoção é um sentimento que não evapora e, por isso, poderá existir uma cobrança no futuro, que costuma ser cara. A mulher que faz papel de santa (engolindo as traições do marido) um dia pode cair em depressão ou ter uma doença séria, por causa da mágoa. Os psicoterapeutas, em grande parte, defendem essa possibilidade.

Contos da carochinha

Suzi teve uma educação rígida. Na adolescência morria de medo dos homens. Aos 19 começou a namorar e, de repente, achou o mundo cor-de-rosa. Casou-se sem imaginar que pouco tempo depois seu castelo desmoronaria. Os sinais de traição eram evidentes, só ela não enxergava. O maridão viajava sempre e chegava em casa tarde da noite. Suzi não ligava, achava que o motivo era mesmo trabalho. Mas não conseguiu se enganar quando pintou um clima entre ele e uma amiga do casal. Evidentemente, seu parceiro negou, e ancorada em seu conto-de-fadas foi empurrando com a barriga achando que havia imaginado coisas. Quando não agüentou, propôs uma conversa séria. Ele se irritou e pediu a separação. Hoje, acredita que não valeu a pena ter se passado por boba tanto tempo. "Meu amor próprio despencou e a recuperação foi um trabalho muito doloroso, com ajuda de terapia", disse.

Pessoa como Suzi, pouco autoconfiante, procura situações de sofrimento motivada pela culpa. Geralmente teve experiências difíceis na infância, por exemplo, e atrai relações complicadas. Inconscientemente essa mulher busca um parceiro que a despreze, para se punir do sentimento de inferioridade. Isso explica porque, ao invés de encarar a realidade, Suzi achava que estava imaginando coisas.

Jogo

A infidelidade masculina é uma questão cultural. Muitas pessoas acreditam que a mulher deva perdoar as aventuras do parceiro. Mas, com o homem, as coisas mudam. Ele dificilmente aceita a traição e, se o faz, se transforma numa figura desprezada.

Fica perturbado ao imaginar a esposa transando com outro homem. E as mulheres não suportam a idéia de o parceiro se envolver emocionalmente com outra.

Muitas atribuem a manutenção do casamento aos filhos. Nessa situação a criança vai se sentir responsável pela opção da mãe e, na vida adulta, repete o padrão, identificando-se com ela pelo sofrimento.

Relação aberta

Existem mulheres que convivem com maridos infiéis porque se satisfazem por outras vias. Umas dão prioridade à carreira. Então… é bom o marido ter amante, será menos incomodada. Outras, "a liberdade do companheiro foi tratada antes das núpcias. O apetite sexual dele é tão intenso que é melhor que saia com outras". Só vai ter problema se ele sair mais de uma vez com a mesma mulher, disse Marisa que fez o trato. Esse caso vem confirmar que a mulher sente o perigo no ar, quando há envolvimento.

Alguns especialistas acreditam que nem sempre é preciso confessar um caso irrelevante. Só vai magoar o parceiro. Às vezes, se é revelado, indica que a pessoa está inundada de culpa e pede absolvição. Ou, ainda, pretende revidar uma situação anterior. Uma relação que se pauta pelo equilíbrio da dor não é saudável.

Ser feliz

Se em algum dos casos relatados você enxergou sua vida, pergunte-se: sou feliz de verdade? Se a resposta for afirmativa, não dê bola para opiniões alheias. Acredita-se que, em algumas situações, um encontro extraconjugal pode dar uma sacudida no relacionamento. Mas, se a traição representar um fator de tristeza, pare e análise. Diante da frustração, reflita, tentando encontrar causas e soluções. Essa é uma oportunidade valiosa para dar novo rumo à vida. É a chance de você se tornar uma mulher emocionalmente madura e- por que não?- feliz.

Lembre-se: toda mudança interior é acompanhada de sofrimento. Mas, não deixe o "sofrer" ser um costume em sua vida.

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