João Baptista Galhardo (*)
A imprensa publicou há algum tempo que as bactérias estão comendo e adorando os antibióticos. Dá para imaginar a mãe bactéria falando para suas filhinhas: "não se empanturrem que vocês engordam, deixem um pouco para amanhã… gulosas".
Mas assustadora mesmo foi notícia de que um cientista juntando o espermatozóide de um boi com o óvulo de uma vaca, gerou um embrião em vidro, juntando a ele uma célula tronco de gente. Interrompeu o estudo depois de dezesseis dias e surpreendeu-se que do todo prevalecia uma parte de noventa e seis por cento de humano e apenas 4% do animal.
E aí? Nasceria um ser humano com cabeça de boi? Uma vaca com seios femininos ou homem com chifre e rabo?
Brincam irresponsavelmente com a natureza.
Na antiga Grécia os homens tentavam explicar os fenômenos naturais e até a origem do mundo, por meio de lendas sobre as mais diversas divindades. Segundo a Mitologia Grega era o Destino, divindade que nasceu da união entre o Caos e a Noite, que estabelecia tudo o que acontecia no mundo.
Nas antigas mitologias, além de heróis fabulosos havia também vilões horrendos, enfrentados somente por deuses dotados de poderes sobrenaturais.
Havia o Cérbero, cão terrível de três cabeças que guardava o palácio de Plutão, o deus dos infernos.
Havia ainda: os gigantes Ciclopes de um olho na testa que trabalhavam para Vulcano, o deus do fogo. Fênix a águia, de plumas douradas no corpo e brancas e vermelhas na cauda que morria e renascia de suas próprias cinzas. As Górgonas, três irmãs monstruosas com cabeça e corpo de mulher, com dentes de javali, garras no lugar das unhas e serpentes vivas como cabelos. Transformavam em pedra as pessoas que olhavam. O Grifo, com o corpo metade águia, metade leão, com orelhas de cavalo. As Harpias, com rosto de mulher, corpo de abutre e orelhas de urso. A Hidra de Lerna, serpente de sete cabeças teimosas que renasciam toda vez que eram cortadas. O famoso Minotauro com sua cabeça de touro que atazanou por muito tempo o rei de Creta, Minos. Nasceu de um "romance" da esposa do monarca, Pasifaé, com um touro branco, enviado ao casal pelo deus dos mares Posêidon. A Quimera, misto de leão, dragão e cabra e o Unicórnio, cavalo branco com um chifre no meio do focinho e que permitia só a presença de moça bonita.
Tomara que os estudos com utilização de células tronco venham a curar, amenizar ou prevenir grandes males.
Mas o pesadelo dessas experiências responsáveis ou irresponsáveis da miscigenação científica entre homens e animais nos leva a imaginar que num futuro não muito distante poderíamos ter nas farmácias células tronco específicas de animais, em cápsulas, para uso profilático, terapêutico ou estético do ser humano já adulto e ter que ouvir nas rodas sociais comentários até então inimagináveis. "Olha Judite, silicone já era. Tomei umas células tronco de úbere de vaca e meus seios além de crescerem, cada um tem quatro bicos".
– Menina, vi seu marido jogando futebol de ceroula… Como ele mudou depois do tratamento com células tronco de jumento!
Estão criando uma nova mitologia…
Muitas drogas agressivas deixariam de ser usadas para a musculação de atletas. Bastaria uma dose reforçada de células selecionadas de cavalo.
Para assiduidade masculina no leito conjugal bastaria uma porção de células da genitália de coelho ou de galo, embora viesse aumentar o número de divórcios por iniciativa das mulheres em razão da inevitável e animalesca ejaculação precoce.
O problema do trânsito seria resolvido com a obrigação dos adultos ingerirem células de asas de garça. Voariam para o trabalho, deixando seus veículos em casa.
Até eu que não tenho pressa de morrer, quando chegasse ao último gole da minha vida, mandaria buscar na farmácia uma dose de células de fênix, suficiente para eu renascer, tal como sou hoje, das minhas cinzas ou do meu pó de morto.
E não estou nem aí com aqueles que não gostarem do meu renascimento,
"Ele de novo… até quando?"
