Na última edição o J.A. publicou editorial sobre a derrubada do Salão de Nossa Senhora. Diante disso, o conservador-restaurador José Sérgio Martins levantou a questão do patrimônio cultural da cidade.
Senhor editor
Lendo a matéria sobre o salão Nossa Senhora, na edição próxima passada, fiquei indignado com a ação da igreja em derrubar mais um patrimônio de nossa cidade. Quando da reforma da igreja de Santa Cruz manifestei-me contra a reforma como foi feita, visto que muito do que existia foi perdido. Por exemplo: o altar em mármore da carrara rosa, o anjo na fachada, o rendado lateral etc.
Na época não foram dados ouvidos e acredito que não seria agora. Quanto a capela de São Francisco, manifestei meu interesse em restaurá-la, sem custo de mão-de-obra, por ocasião da compra ou permuta do prédio do asilo, também não me deram ouvidos. A derrubada foi uma questão de má gestão de nosso Patrimônio Cultural, assim como as obras do Palacete São Bento e Casa da Cultura, não respeitaram as normas de restauro.
A disposição para maiores esclarecimentos.
José Sérgio Martins
Conservador-restaurador
Com respeito à história de Araraquara, José Sérgio revela que a luta pela conscientização da população sobre a importância do patrimônio é antiga, desde a reforma da Igreja Santa Cruz. Ele explica que a igreja está fora do centro histórico de Araraquara, que vai até o supermercado Extra, portanto, as obras foram permitidas. “Nós deveríamos ter um Conselho de Araraquara para fiscalizar e autorizar obras reformas de loja até a absurda derrubada de prédios.”
Existem várias normas para que a reforma de um patrimônio seja possível. José Sérgio explica que primeiro é necessário fazer um diagnóstico do patrimônio verificar a pintura original e o material utilizado para depois começar as obras.
Essas medidas de restauração já foram propostas, mas, não obtiveram a atenção necessária. “Foi montada uma comissão que elaborou o projeto de restauração da Praça da Matriz. Cada planta foi avaliada, junto com o paisagismo, a proposta de mudanças de árvores e a situação do ponto de táxi. Esse projeto foi engavetado, porque aparentemente não iria trazer grandes políticos para na cidade”, explica o conservador. “Mas a restauração traz grandes benefícios, basta transformar isso em projeto social”.
Restauração social
José Sérgio explica que o adolescente (por inferência quem depreda o bem público), deveria trabalhar na recuperação desse patrimônio, ao mesmo tempo que aprende uma profissão. “Nunca deram ouvidos ao projeto, o que impede uma consciência pública. A pessoa valoriza o patrimônio se conhece e se participou de alguma forma dessa história. Com os jovens participando da restauração desses bens, dificilmente seriam depredados.
Patrimônio
Existem os patrimônios culturais edificados que são os prédios e igrejas, e os patrimônios culturais móveis que são as pinturas e esculturas.
José Sérgio diz que Araraquara possui um patrimônio edificado muito grande mas infelizmente quase todo modificado. “Ainda temos a primeira escola pública e casas onde moravam pessoas importantes na história da cidade mas, com esse anseio por modernidade, podem ser modificados”, revela.
Existe também a preocupação com os bem móveis, entre eles os objetos da Matriz, “Havia uma relação de pessoas para quem o padre fez doação dos objetos e estamos tentando resgatar esses bens para fazer o museu da igreja, onde nasceu Araraquara.”
Para o técnico, a cidade é planejada e cada patrimônio possui uma historia que não pode ser perdida. “Ao invés de se preocupar com a lenda da serpente para explicar as rachaduras da Igreja Matriz, as pessoas deveriam procurar algo sobre o córrego que serpenteava aquela região. Vamos pegar nossos geólogos e estudar o terreno da cidade para conhecer a historia de Araraquara? Querem fazer o novo e acabam se esquecendo que uma cidade sem patrimônio e sem memória, não tem futuro”, finaliza.