Antonio Delfim Netto (*)
Na percepção dos mercados internacionais, a situação do Brasil melhorou bastante em comparação com o ano passado e em relação aos primeiros meses de 2003. Isso se deve à administração das políticas fiscal, conduzida de forma impecável pelo ministro Palocci e a monetária exercida pelo Banco Central, que alcançou o objetivo de reduzir a taxa de inflação. O êxito dessas políticas tem alimentado, de um lado, a crença que o país está construindo as condições para voltar ao crescimento e de outro, uma certa euforia no mercado de capitais. A primeira dessas sensações é correta mas a segunda me parece estimulada pela idéia falsa que a valorização acionária produzida pelo ingresso do capital da "morte súbita" é mais importante do que a queda das taxas de juro.
Esse tipo de apreciação, se aceito, pode colocar o país novamente em situação de grave risco. Está sendo montado um sistema que na primeira perturbação do mercado nos trará problemas. O cidadão, possivelmente um brasileiro rico que tem um investimento lá fora, está trazendo de volta esse dinheiro para aplicar na Bolsa. Em princípio é muito bom que esteja entrando dinheiro porque movimenta o mercado e a elevação das cotações pode estimular futuros investimentos. Mas este é um tipo de capital que não produz nada de útil para a economia, é apenas circulação de papel. Quando ele entra, diminui a taxa de câmbio e valoriza o Real. A cotação na Bolsa aumenta e produz uma taxa de retorno altíssima em dólares. Não tendo produzido nada quando entrou, o capital da "morte súbita" quando sai está levando para o exterior recursos que o país produziu.
Toda essa facilidade de manejo do capital vagabundo está colocando a taxa de câmbio numa situação que nos impedirá de manter o ritmo exportador com o ímpeto necessário. Foi o câmbio que, cobrindo os gastos com transporte, permitiu nossa expansão nos mercados asiáticos este ano. Mas agora o custo dos transportes está aumentando e a valorização ao Real está funcionando na direção contrária.
Apesar da melhora da percepção sobre o Brasil, estamos crescendo muito pouco, a vulnerabilidade externa ainda é alta e por isso dependemos radicalmente do aumento das exportações. Em lugar de continuar surfando essas ondas que acontecem permanentemente no mercado, precisamos olhar o futuro e fazer o que for necessário para manter o câmbio na posição correta e trazer a taxa de juro real para o nível adequado, de modo a permitir a continuidade do esforço exportador e a retomada do desenvolvimento.
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