Diorindo Lopes Júnior (*)
Não sei o que acontece, mas quando escrevo que não confio em qualquer governo, independente da cor política que tenham esses governos (cidades, estados ou país), minha caixa postal fica entupida de vociferantes mensagens de partidários de uns e outros. Para quem, uns e outros, sou alienado, estúpido politicamente, ignorante, mal-intencionado, discípulo dos coturnos da ditadura, entre outras impublicáveis imprecações que, por educação, prefiro omitir.
Talvez eu seja tudo isso, mas o fato é que venho me debatendo com todos os governos desde quando um ministro da economia da ditadura declarou que “para dividir o bolo, era preciso esperar ele crescer”. Pois esperamos, obrigados que fomos, e o que se viu foi a disparada da desigualdade social na mais covarde e desonesta distribuição de renda que jamais se viu.
Não tem dez anos, o presidente da vez referiu-se aos aposentados como vagabundos, certamente desinformado de seu séqüito de aduladores que são os aposentados quem, com suas parcas remunerações, sustentam milhares (milhões?) de famílias em outros milhares de municípios neste país. Vagabundos como, cara-pálida, quem?
Não tem nem 6 meses, escrevi um artigo revelando meu medo de envelhecer e aconselhando pessoas como eu, na faixa 40/50 anos, a tratar desde já os jovens muito bem. Afinal, serão eles, muitos então “autoridades”, a cuidar de escolher onde e como iremos sobreviver, quando nossos já flácidos músculos e ossos ficarão debilitados de vez.
Quem, na minha faixa, viu/ouviu/leu o noticiário desta semana, deve ter se arrepiado com a determinação de os aposentados com mais de 90 anos se recadastrarem para receber seus míseros proventos e provar que continuam vivos. Os milhares de inválidos deveriam indicar prepostos para comparecerem até uma dependência oficial para “marcar uma vistoria” no local de vivência deste/a respeitável inválido/a.
Não soa como brincadeira de mau gosto?
Ainda se houvessem funcionários para vistoriar esses aposentados que vivem em precárias condições… Mas, a se observar a morosidade e o desleixo com que são tratados os cidadãos que se dirigem a essas unidades oficiais, é fácil prever que esses cidadãos menos afortunados pela saúde morrerão à míngua. Talvez antes mesmo do tempo que lhe foi determinado para aqui cumprir sua missão.
Deixo claro que não estou praticando qualquer proselitismo político, nem sou prosélito de nada, mas demonstro meu inconformismo com esse e outros descasos praticados contra pessoas que, com seu trabalho e atenção, tornaram minha vida possível hoje.
Graças a Deus, ainda tenho pais vivos, tive avós e avôs, tenho tios e muitos amigos, que, pelo muito que já fizeram, pedido oficial (relutante) de desculpas à parte, são pessoas que não merecem tamanho desrespeito e insensibilidade..
(*) É jornalista e autor de Sol em Capricórnio.