Macaquices e o bagulho

(*) Antonio Delfim Netto

Certamente a população jovem, na faixa dos 17 aos 25 anos, que é a mais penalizada com a falta de oportunidades de trabalho, não aceita com naturalidade as explicações correntes para o baixo crescimento da economia. Já faz 12 anos que se ouve o mesmo nhenhenhem, no começo tentando convencer-nos que o desenvolvimento viria após o período da “desinflation competitive”, que depois verificou-se não passava de uma dessas macaquices que alguns PHDs brasileiros gostam de trazer do exterior. Mais tarde, quando o governo FHC penhorou o país lá fora, vendeu o patrimônio e ainda contraiu uma dívida de 160 bilhões de dólares um seleto corpo de “sábios” desenvolveu no Banco Central um modelo ultra sofisticado para explicar à geração de jovens desempregados porque é preciso adiar um pouco mais o sonho do desenvolvimento… e do emprego.

O modelo procurou demonstrar “cientificamente” que o “crescimento potencial” do PIB brasileiro tem um “teto” de 3,5% e que o juro real tem que manter um “piso” de 10% ao ano, sob pena de perdermos o controle da inflação.

Com um pouco de criatividade os “sábios” poderiam recorrer à explicação muito mais sofisticada do sambista e compositor carioca Zeca Pagodinho, que depois de um “papo cabeça” com o Presidente no Rio de Janeiro, sintetizou de forma admirável: “Lula encontrou o bagulho entupido. Leva tempo para desentupir”…

As causas do “entupimento” foram, pela ordem: 1) A política cambial de 1994 a 98 que secou as exportações e gerou o déficit de 100 bilhões de dólares em conta corrente; 2) A sustentação do juro real de 20% nos primeiros 4 anos e de 10% reais nos anos seguintes; 3) O aumento da carga tributária de 26 % em 1994 para 38 % do PIB no final do governo FHC; e 4) O crescimento da Dívida Líquida estatal de 30% para 57% do PIB em 2002. Hoje caiu para 50%. Ainda é muito alta em relação ao PIB.

Esses fatores mostram que o setor público se apropriou, via impostos, dos recursos do setor privado para produzir e pela via dos juros retirou dele o acesso ao crédito. Para financiar a imensa dívida pública, o governo precisou pagar taxas de juros mais altas, que não podem ser pagas pelo setor privado, que se viu expulso do mercado de crédito. Na condição de credor único do governo, praticamente deixou de existir competição no sistema financeiro. A concentração bancária permite inclusive que as empresas vendam os seus trabalhadores: com auxílio dos próprios sindicatos impedem o trabalhador de escolher o Banco onde receber ou depositar seu salário. O crédito para o setor privado está reduzido a menos de 30% do PIB. Ele já foi de 80% quando a economia crescia de forma robusta. A pequena expansão da oferta se dá no crédito consignado e nas áreas micro. Não existindo crédito a custo suportável não cresce a produção, não cresce o emprego e a economia patina. Deu para entender por que está demorando a “desentupir o bagulho”?

(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br

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