Antonio Delfim Netto (*)
Em entrevista no final do ano passado fiz um comentário elogiando a gestão do Sr. Armínio Fraga à frente do Banco Central, dizendo que ele administrou com competência as várias situações de crise que perturbaram a economia brasileira, algumas delas herdadas dos equívocos produzidos no primeiro mandato de FHC nas políticas fiscal e cambial. Houve quem estranhasse esse comentário pelo fato de ter feito críticas constantes à condução da política econômica em todo o período de governança tucana. O que não se pode deixar de reconhecer é que houve um trabalho competente no Banco Central que a meu ver contribuiu para reduzir os efeitos do fracasso do governo em promover o crescimento econômico, a melhoria das condições do emprego ou a redução das desigualdades sociais.
Armínio Fraga assumiu o Banco Central em seguida à desvalorização cambial de janeiro de 1999. Sob seu comando a política monetária e cambial foi profundamente mudada depois que o Brasil revelou-se insolvável . Instituiu-se um sistema de metas inflacionárias e liberou-se a taxa cambial em circunstâncias muito difíceis: 1) elevada relação Dívida Líquida/PIB; 2) relação Dívida Externa Líquida/Exportação muito alta; Todos sabem que o sistema de metas inflacionárias encontra dificuldades sérias, tanto de diagnóstico como operacional, quando tem de enfrentar choques “de oferta” e quando pequenos ajustes da conta de capitais exigem amplas variações na taxa de câmbio real para produzir modificações equivalentes na conta-corrente. No primeiro caso é preciso decidir qual o “tempo” adequado de ajuste para evitar fortes flutuações da taxa de juros que perturbam o processo produtivo. No segundo é preciso decidir se a elevação da taxa de câmbio é permanente ou temporária para saber qual a resposta que ela exige, no tempo e magnitude, da taxa de juro. Armínio Fraga soube fazê-lo a despeito das circunstâncias adversas.
A partir de meados de 2001, o Banco Central do Brasil enfrentou um violentíssimo choque de oferta (o famoso “apagão”) e outros menores (ataque terrorista de setembro, queda de financiamentos devido ao aumento da aversão ao risco etc.). E em 2002 a situação ficou ainda mais complicada porque no processo eleitoral o próprio Governo assustou o Brasil, dizendo que “se a oposição vencer seremos a próxima Argentina”. Isso produziu um enorme aumento da dívida nominada em dólares, ao mesmo tempo em que aumentou a volatilidade do câmbio.
Diante da quantidade e dimensão dos choques, de fora do controle do Banco Central, não creio que devemos considerar um “fracasso” do sistema de metas o IPCA de 12% de 2002 e a alta dispersão das expectativas para 2003. Ao contrário, creio que ficamos todos devendo ao confiável e hábil Sr. Armínio Fraga, importante contribuição para o aperfeiçoamento e melhoria da qualidade da administração da economia brasileira.
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