Reginaldo Galli (*)
O leitor Campos Netto envia-me longo e-mail, do qual extraio e saliento os seguintes trechos: “Em sua mensagem lida pessoalmente na reabertura dos trabalhos do Congresso Nacional, Lula foi enfático, mas ao mesmo tempo injusto ao afirmar que “recebemos uma inflação fora de controle. Foi por isso que tivemos de subir os juros”. A inflação anual de 2002, calculada pelo IPCA, foi 12,5%, índice um pouco acima da previsão do governo pelo fato de termos atravessado um ano eleitoral, com naturais repercussões econômico-financeiras. Em 1 de janeiro de 1995, quando assumiu a Presidência, FHC herdou uma inflação anual de 916,46% (IPCA -1994). Os números falam por si mesmos: 12,5% contra 916,46%! Se a intenção do discurso foi jogar sobre o antecessor a responsabilidade pelo aumento – agora já são dois! – da taxa de juros, seus leitores precisam estar prevenidos contra esse vírus das informações equivocadas.”
Prezado Campos Netto: você já ouviu falar de algum candidato que, guindado ao executivo, seja ele federal, estadual, distrital ou municipal, deixasse de tecer desairosas críticas a Deus e todo mundo ? Essa questão da herança é bem ilustrativa de quão sábia foi a Lei de Responsabilidade Fiscal e da urgência urgentíssima de uma Reforma Política. Salvo se reeleito ou quando sucessor de um “companheiro”, o papo é “sempre quello”. Os chamados radicais do PT não deixam de ter lá suas broncas e motivos para boquejar contra a orientação de Lula, cuja vitória lutaram por conseguir após tantos anos. Ocorre que a economia “tem razões que a própria razão desconhece”. Ou, como asseverava antiga propaganda de uma transportadora famosa, nos aparelhos de rádio de minha infância e nos pára-choques de seus gigantescos caminhões “O Mundo gira e a Luzitana roda”. Não se espante com o Z, empresa e mensagem são mais velhas que as desculpas desses heróis: nunca desejaram o “pudê”, foram levados ao tremendo sacrifícío por puro patriotismo ou para atender os irrecusáveis apelos da sociedade etc etc . Com o invejável senso crítico e a costumeira clareza que qualificam seus apreciados textos, escreveu, desde Bruxelas, mestre Clóvis Rossi: “Tarso (Genro), tido como um dos ideólogos do PT, propõe uma espécie de “moratória da utopia”. (…..) Fernando Henrique Cardoso cunhou a expressão “utopia do possível”. Cansei de escrever que “utopia do possível” é a quintessência da mediocridade, pelo óbvio fato de que o possível qualquer um alcança. O que um país como o Brasil precisa é da busca da utopia, sem penduricalhos e sem moratória. É inalcançável por definição, mas ou se põe o impossível como meta, ou a gente vai ter que se conformar eternamente com conquistas medíocres, avanços milimétricos(…..) Tarso Genro poderia ter tido ao menos a delicadeza de anunciar de quanto tempo será a moratória da utopia. Um ano? Quatro? O que resta do século? (……) Não é à toa que muito petista de carteirinha e coração (coração apertado, aliás) anda achando(……)que, bem feitas as contas, o medo está vencendo a esperança.”
Resumo da ópera, meu caro leitor : aproveitemos a temporada momística e deixemos em paz, por mais um bimestre, Lula lá, suas promessas, seus churrascos. A hora é de Lalá, o genial Lamartine Babo, que já em 1934 nos remetia ao verdadeiro culpado por toda essa encrenca problemática, sem aparente solucionática:
“Quem foi que inventou o Brasil?
Foi seu Cabral, foi seu Cabral!
No dia vinte e um de abril,
Dois meses depois do carnaval.”
(*)É professor, advogado e colaborador do JA.