Inflação: onda dos analistas de plantão

Antonio Delfim Netto

O Brasil é parte do mundo e seria impensável e até um tanto ridículo imaginar que nossa economia não seria atingida se os Estados Unidos e os demais países desenvolvidos entrarem num processo de recessão mais sério. É verdade que o Brasil tem uma situação confortável externamente, com reservas importantes para enfrentar turbulências depois de termos nos livrado da situação constrangedora, de absoluta dependência em que nos encontrávamos em 2002, quando fomos socorridos pelos empréstimos do FMI. Desde então a economia mundial cresceu rapidamente, aproveitamos a oportunidade da melhora nos preços dos produtos que exportamos, saímos do enrosco e praticamente liquidamos a dívida externa. Embora se admita que o Banco Central adote uma atitude de cautela nesse momento, não tem cabimento a idéia de fazer aumentos preventivos da taxa de juros a pretexto que estamos sob uma grave ameaça de inflação.

Não há nenhum fato que indique a iminência de uma volta da inflação. O que existe é um movimento estimulado por "analistas" dos mercados financeiros desejosos de criar um clima de expectativa inflacionária que justifique a elevação dos juros, única forma capaz de conter o crescimento "irresponsável" da demanda interna. Enquanto o mundo inteiro, preocupado com os níveis de emprego (a começar pelos Estados Unidos que cortaram esta semana 0.75% de sua taxa de juro) caminha na redução das taxas, nossos "financistas" defendem radicalmente o seu aumento e ainda por cima de forma "preventiva"! Querem isso já, antes que a inflação melhore e mate as expectativas…

Há uma evidente tentativa de anular o espírito que dominou a sociedade brasileira em 2007, empresários e trabalhadores em todo o país, na determinação de acelerar o desenvolvimento. É uma espécie de terrorismo que se manifesta primeiro na sustentação da idéia que é preciso aumentar de qualquer forma a taxa de juros "para evitar que se ponha a perder a estabilidade tão duramente conquistada" nos últimos anos. Os preços cresceram um pouco no mundo inteiro ao final do ano passado e início deste mas a mudança dos preços relativos entre a agricultura e a indústria não é uma indicação segura de que teríamos inflação. Os salários reais têm crescido muito pouco e de maneira compatível com o crescimento do Produto. Na realidade o aumento da produtividade tem acompanhado o crescimento da taxa nominal dos salários, ou seja, não há esse mecanismo de transmissão automática de que se fala.

Um aumento da taxa de juros, então, neste momento vai elevar a carga fiscal da dívida bruta que o Brasil tem, de 75% do PIB, uma das maiores do mundo. Enquanto os Estados Unidos e muitos outros países vão continuar baixando suas taxas de juro, o diferencial entre a nossa taxa de juro interna e a externa continuará crescendo, impedindo a redução do peso da dívida pública que foi construída no passado exatamente pela manutenção da escandalosa taxa de juro real entre os anos de 1995 e 98. Pior do que tudo, uma elevação dos juros agora destruiria a expectativa de repetirmos em 2008 o forte crescimento alcançado em 2007, acima de 5% do PIB. O grosso da energia do crescimento brasileiro vem do mercado interno e depende das decisões de investimento que o empresário faz quando está próximo de sua capacidade e sente que há demanda além de sua capacidade atual de produção. (E.mail contatodelfimnetto@terra.com.br)

Compartilhe :

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Nove dicas para controlar e reduzir o estresse

Daae informa sobre desabastecimento de água

Escola da Inclusão da SEDPcD abre inscrições para curso de Introdução em Libras nesta terça (8)

Prefeitura realiza 1° Feira de Mulheres Empreendedoras da Zona Norte nesta quinta (10)

FliSolzinha apresenta contação de história “A Coroa de Fios” nesta quarta-feira (9)

CATEGORIAS