Antonio Delfim Netto (*)
Faz papel ridículo quem tenta defender uma política monetária que há doze anos impõe à economia brasileira a maior taxa de juros real do mundo, reduziu o crédito ao setor privado a algo em torno de 30% em relação ao PIB (quando historicamente representava 70% ou 80% do PIB) e deixou como heranças uma taxa de crescimento insignificante e um enorme e renitente desemprego. Nesse período, em que a grande maioria dos países combateu com êxito a inflação e manteve níveis bastante razoáveis de desenvolvimento, o Brasil foi o único a ignorar as oportunidades oferecidas pela expansão da produção e do comércio mundiais. A partir de 1994 e até 1999, congelou suas exportações, permitiu que se acumulasse uma dívida externa de 186 bilhões de dólares e uma dívida interna superior a 56% do PIB, vendeu uma boa parte do patrimônio público em tenebrosas transações e depois elevou a carga de impostos a níveis insuportáveis para garantir a tranqüilidade dos credores.
Tudo isso feito a título de manter a estabilidade econômica, que se tornou um símbolo de “excelência” da governabilidade tucana, vendido à população durante oito anos graças a bem engendradas estratégias de comunicação e propaganda. Tão bem conduzidas que se conseguiu convencer boa parte da sociedade brasileira que uma taxa de juros real de 20% ao ano durante 4 anos seguidos era perfeitamente justificada diante do “objetivo maior” da sacrossanta estabilidade. Esconderam-se cuidadosamente os problemas das dívidas interna e externa, enquanto se “vendia” à população um “programa de privatização” (melhor dito de privataria), como se fosse a última palavra em matéria de administração moderna , um “choque de gestão” na pesada máquina estatal … Na realidade, alienou-se o patrimônio sugerindo que se reduziria o endividamento público, mas, logo se viu ao final do processo que a dívida tinha aumentado, o que levou o governo a aumentar ainda mais a carga de impostos!
A redução do constrangimento externo a partir de 2002 graças à recuperação de nosso comércio exterior e ao próprio crescimento da economia mundial, permitiria aliviar a rigidez da política monetária mas isso não foi aproveitado pelo Banco Central no governo Lula. Embora caindo à metade do período anterior, a taxa de juros se mantém muito alta, em torno de 10% ao ano em termos reais, o que é um nível absolutamente escandaloso e vai manter a economia brasileira num nível insuficiente de crescimento.
É indefensável uma política monetária que se resume a adiar indefinidamente o desenvolvimento.
(*) E_mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br