Antonio Delfim Netto (*)
Alan Greespan, presidente do Banco Central americano (FED), comentando as turbulências nos mercados financeiros e de câmbio no Brasil, disse esta semana que elas são um problema essencialmente político . Creio que o Sr. Greespan queria nos ajudar, procurando amenizar um pouco a declaração do Secretário do Tesouro dos EUA (depois desmentida), de que os americanos não estavam dispostos a dar nem mais um centavo ao Brasil, que devia cuidar de si mesmo. Isso é uma tolice, porque o Brasil não estava pedindo nenhum empréstimo, mas simplesmente valendo-se do direito de sacar recursos que estavam à sua disposição no FMI.
No caso do Sr. Greespan, estou convencido que realmente quis ajudar, pois ele sabe que o problema brasileiro não é apenas político e sim conseqüência da dependência externa que construímos nos últimos oito anos. Temos uma dívida externa muito grande em relação às exportações e acumulamos uma gigantesca dívida interna, que não deixam os credores tranqüilos. São esses os fatos que produzem as dúvidas dos investidores e facilitam movimentos especulativos que podem ser induzidos por declarações infelizes, aqui mesmo ou no exterior. Nós assistimos a um desses deslizes quando o Presidente comentou despreocupadamente que se os brasileiros elegerem um governo incompetente (quer dizer, a oposição), podemos repetir o drama argentino. Na excitação pré-eleitoral que vivemos, foi o suficiente para pôr fogo nos mercados. As agências que “orientam” os investidores puseram o microscópio na situação brasileira e passaram a magnificar os aspectos negativos, que existem, atiçando o incêndio. Não foi a possibilidade de vitória da oposição, sozinha, que produziu isso. Nós temos problemas na economia que o mundo vinha aceitando com certa tranqüilidade, até o instante em que introduzimos a hipótese desastrada.
Não me parece que a situação, embora delicada, esteja fugindo ao controle. A dívida interna é alta, mas o ajuste fiscal foi reforçado com a elevação da meta de superávit primário para 3.75% do PIB e não existe a possibilidade de uma crise cambial grave. O aumento da volatilidade nos mercados em períodos eleitorais é inevitável, diante da perspectiva de mudanças na política econômica, mas é justo registrar que a oposição tem se comportado com bastante prudência, evitando colocar lenha na fogueira. É recomendável, portanto, que os líderes tucanos exibam uma postura mais inteligente, deixando de lado a crença que os mercados, devidamente motivados pelo terrorismo eleitoral, podem determinar o resultado das urnas.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br