Cerca de 38% dos trabalhadores de todos os níveis hierárquicos têm medo de tirar férias, temem ser substituídos por alguém melhor
Paulo Chebel (*)
Na maioria das empresas a palavra férias tem dois significados, um para quem está prestes a ganhar o descanso e outro para quem fica na empresa cobrindo as férias dos demais. Algumas organizações adotam o esquema de férias coletivas, neste caso, férias é férias. Pode até não agradar, mas torna-se um descanso obrigatório a todos, não permitindo ao colaborador escolher um período que pudesse lhe ser mais conveniente.
Na hora de descansar alguns executivos não conseguem desligar-se do trabalho, por conta da insegurança. Segundo um estudo recente realizado pela psicóloga Ana Maria Rossi, pesquisadora da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), cerca de 38% dos trabalhadores de todos os níveis hierárquicos têm medo de tirar férias, temem ser substituídos por alguém melhor.
Há também, aqueles se acham imprescindíveis, não podendo sair de férias, mas no fundo são incapazes de organizar a própria agenda ou não confiam nos outros para passar os projetos importantes. Em muitos casos, a convivência com a família e os amigos diminui tanto, que o trabalho passa a ser a única fonte de satisfação e felicidade do profissional. É por isso que, mesmo de férias, muitos continuam conectados com o trabalho, o que gera durante o decorrer do ano queda no desempenho, exaustão, pouca capacidade de concentração e limitação da visão estratégica.
Para evitar o problema, hoje já existe uma regulamentação que o funcionário não pode passar mais de 24 meses sem sair de férias, obrigando a todos a desfrutarem do benefício. Como mesmo longe alguns acessam e-mails e a rede interna empresarial, algumas organizações adotam medidas de segurança para garantir que o colaborador fique realmente longe das suas atividades diárias. Por exemplo, cancelam temporariamente o acesso do colaborador aos arquivos eletrônicos da empresa rede interna e e-mail, bloqueiam o crachá na catraca de admissão, entre outros artifícios.
Ao sair de férias é comum dizermos ou escutarmos de quem está pronto para o descanso: "tudo o que você precisa está nesta pasta", até que se descobre que algumas coisas que deveriam estar prontas ainda nem foram começadas. Aí o chefe, ou melhor o gestor, vem e pede o status do projeto e o colaborador que está cobrindo as férias informa que ainda faltam alguns itens a serem complementados. Claro que o gestor retruca que deve haver algum mau entendido e que devido a importância do projeto os itens devem estar prontos hoje. Claro que o status passado para o gestor é que tudo estava em ordem. Enfim, não adianta discutir é preciso completar as tarefas e entregar o projeto a contento da gestão. Neste momento não interessa ao gestor quem fez ou deixou de fazer ele precisa dos itens prontos para a tender aos compromissos. Na maioria das empresas, que não adota o esquema de férias coletiva, esta cena faz parte do cotidiano.
Seja qual for o esquema de férias da empresa, uma coisa é certa: quando um colaborador está de férias tem alguém trabalhando mais do que sua carga normal de trabalho. Quem está na empresa e irá cobrir as férias terá que trabalhar mais, pois terá que executar as suas tarefas do dia-a-dia e também as tarefas do outro colaborador. É possível distribuir as atividades para vários colaboradores, mas normalmente isso não é feito, pois existe um inter-relacionamento das atividades e é melhor que uma pessoa execute todas as tarefas. Para que seja realmente proveitoso o período tanto empresa como colaborador precisa planejar as férias. O momento é uma ótima oportunidade para validar as atividades do colaborador que está de férias, investigar se as normas e políticas estão sendo seguidas, contatar fornecedores e clientes e validar o relacionamento, pessoal e corporativo criado pelo colaborador, e principalmente treinar uma segunda pessoa para atuar em um determinado cargo ou posição, seja ela uma necessidade, uma oportunidade ou uma decisão estratégica. No caso de um treinamento para atuar como back-up, o trabalho é ainda maior pois durante as férias o substituto necessitará de apoio e orientação.
Uma afirmação pode ser feita sem dúvida: férias precisam ser planejadas e sempre alguém irá trabalhar mais durante as suas férias.
(*) É especialista em direção empresarial e diretor da Outstretch Empreendimentos e Negócios – www.outstretch.com.br