g.polezze
Sempre é Dia de Justiça
Nunca se precisou refletir tanto sobre justiça, como agora. Razão de silenciar nosso teclado para “ouvir” o ruído forte e contundente das palavras impressas do deputado federal Dimas Ramalho.
“Quero saudar o Deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, que neste momento assume a Presidência desta sessão e foi o primeiro autor desta sessão de homenagem aos 100 anos do XI de Agosto e aos 24 anos de anistia. Quero dizer ao prezado Luiz Eduardo Greenhalgh que seu escritório na Bela Vista, que eu, quando estudante, freqüentava, foi um pólo altamente importante, não só de luta pela anistia, mas também de luta pela formação democrática, pela resistência democrática e uma trincheira forte contra a ditadura militar.
Antes de começar a sessão, eu estava analisando o significado desta data, desta homenagem. Exatamente como disse o Deputado que me antecedeu, Luiz Eduardo, sobre os 100 anos do XI de Agosto, uma coisa me deixa muito orgulhoso e honrado na minha vida pública e privada: ter sido Presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto no ano de 1978.
Em todas as lutas de afirmação, de defesa da democracia, o Centro XI de Agosto teve papel ímpar, pioneiro. Não há nenhum estudante que ingresse nas arcadas do Largo de São Francisco e não saia 5, 6 ou 7 anos depois diferente de quando entrou.
As lições de democracia e de Direito, sobretudo o sentimento de patriotismo, todos os estudantes recebem a partir do momento em que ingressam naquela Faculdade.
Participamos de todas as lutas: a favor do voto feminino, pelo petróleo, em 1932, contra a ditadura de Vargas, contra a ditadura militar, impeachment de Collor e principalmente a luta que estamos também comemorando hoje, a anistia.
Fico feliz também porque vários Presidentes da República passaram por lá, vários Ministros, juízes de tribunais superiores. Entre tantos, lembro-me de um ex-aluno que encarnou a democracia e empresta o nome a este plenário como símbolo do Parlamento, fez parte do Centro Acadêmico XI de agosto: o Deputado Ulysses Guimarães.
Toda luta política e democrática deste País teve o peso e o simbolismo do Centro Acadêmico XI de Agosto. Poucas são as instituições que completam 100 anos.
Neste momento, quero saudar todos aqueles que passaram pelas arcadas, pelas diretorias, pela militância, pela luta. Estão todos por aí, cada um na sua trincheira, continuando aquele sonho de academia, de liberdade democrática, de igualdade de direitos, de liberdade de oportunidades, aquelas lições que nunca esqueceremos.
O ano em que fui Presidente do XI de Agosto foi marcado pela luta pela anistia. Não nos conformávamos que houvesse exilados brasileiros, que brasileiros estivessem sendo perseguidos nos porões do regime militar. Aquela gestão ficou marcada por uma luta intransigente pela anistia ampla, geral e irrestrita.
Eu estava lá em 1975, quando a faixa “anistia ampla, geral e irrestrita” foi aberta, quando foi lida a Carta aos Brasileiros,
quando fomos à Catedral da Sé indignados com o assassinato de Vladimir Herzog, quando fizemos um ato público contra a morte de Manoel Fiel Filho, quando combatemos o assassinato de Alexandre Vanucchi Leme, quando combatemos o Pacote de Abril, quando dissemos basta ao regime militar, fim da ditadura, liberdade democrática, anistia ampla, geral e irrestrita, liberdade sindical. Eu estava lá quando as greves do ABC receberam nossa total solidariedade.
Digo isso como estudante que fui do Largo do São Francisco e como pessoa que continua acreditando na luta democrática. Vejo aqui pessoas de idade, que têm o rosto marcado pelo tempo e, mais do que pelo tempo, pela tortura, pela ausência. Vários já não têm familiares; vários se lembram, neste momento, de alguém que faz falta, de alguém que participou da luta e que já não está mais presente. Em homenagem a eles é que me associo neste esforço de conseguir uma solução definitiva para essas pessoas que lutam há tanto tempo e que continuarão lutando, assim como nós continuaremos lutando neste Congresso Nacional.
Por isso, neste momento solene, nesta Casa, que é do povo do Brasil, com todas as virtudes e defeitos que uma Casa democrática apresenta, faço minha homenagem aos 100 anos do Centro Acadêmico XI de Agosto, por cujas arcadas centenárias passaram tantas pessoas queridas, importantes e, com muito orgulho, meu pai.
Quero aqui dizer ao Presidente em exercício, Deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, que venceremos a luta de S.Exa. e de tantos companheiros. Quem diria que a ditadura terminaria como terminou? Quem diria que o impeachment de Collor viria como veio? Quando falamos em anistia pela primeira vez, chamaram-nos de loucos; quando falamos em liberdade sindical, disseram-nos impossível.
A população, as ruas, os militantes, os sindicatos, a consciência cívica do Brasil apontam o caminho do reencontro da nossa Pátria com nosso povo. Por um encontro total, já que temos uma democracia formal, queremos justiça aos anistiados e a todos aqueles que um dia foram perseguidos, humilhados, torturados e exilados no Brasil.
Queremos paz. Temos de olhar para frente, construir a grande Nação que queremos para os nossos filhos. Olhar para frente não significa esquecer, mas reparar erros e olhar para o futuro, a fim de construir o encontro final da nossa Nação que queremos ver cada vez maior e solidária.
Esta sessão, ao juntar os 100 anos do Centro XI de Agosto com 24 anos de anistia, está juntando a solidariedade de todos nós, porque o nosso grande sonho, como acadêmico e anistiados, é fazer o encontro da real sociedade brasileira com a real democracia. Isso só se faz com uma coisa que aprendemos desde o início na Academia e trazemos até hoje: qualquer solidariedade, qualquer encontro, qualquer desenvolvimento, qualquer paz só se faz com justiça”.