Humberto Gouvêa Figueiredo (*)
Acabando de retornar de uma viagem ao litoral do Estado de São Paulo, tive a grata surpresa de deparar-me com uma carta muito especial, subscrita pelo Senhor Roberto Mantegassi.
Em sua breve mensagem, o missivista identificou-se como uma pessoa de 70 anos de idade e pai de 4 filhos, todos já “criados” e casados.
Sua carta foi escrita depois dele ter lido um texto de minha autoria, intitulado “E quando minha filha quiser namorar?”.
Junto à mensagem, ele encaminhou um texto, de autoria desconhecida, que não me julgo no direito de guardar só para mim, uma verdadeira lição. Decidi reproduzir.
O Bosque
“Tempos atrás eu era vizinho de um médico cujo ôhobbyõ era plantar árvores no enorme quintal de sua casa. Ás vezes, observava da minha janela o seu esforço para plantar árvores e mais árvores, todos os dias.
O que mais chamava a atenção, entretanto, era o fato de que ele jamais regava as mudas que plantava.
Passei a notar, depois de algum tempo, que suas árvores estavam demorando muito a crescer.
Certo dia, resolvi então me aproximar do médico e perguntei se ele não tinha receio de que as árvores não crescessem, pois percebia que ele nunca as regava. Foi quando, com um ar orgulhoso, ele me descreveu sua fantástica teoria.
Disse-me que, se regasse suas plantas, as raízes se acomodariam na superfície e ficariam sempre esperando pela água mais fácil, vinda de cima. Como ele não as regava, as árvores demorariam mais para crescer, mas suas raízes tenderiam a migrar para o fundo, em busca da água e das várias fontes nutrientes encontradas nas camadas mais inferiores do solo.
Assim, segundo ele, as árvores teriam raízes profundas e seriam mais resistentes às intempéries.
Essa foi a única conversa que tive com aquele meu vizinho! Logo depois fui morar em outro País e nunca mais o encontrei.
Vários anos depois, ao retornar do exterior fui dar uma olhada na minha antiga residência: ao me aproximar, notei um bosque que não existia antes.
Meu antigo vizinho havia realizado seu sonho!
O curioso é que aquele era um dia de vento muito forte e gelado, em que as árvores da rua estavam arqueadas, como se não estivessem resistindo ao rigor do inverno, entretanto, ao me aproximar do quintal do médico, notei como estavam sólidas as suas árvores: praticamente não se moviam, resistindo implacavelmente àquela ventania toda.
Que efeito curioso, pensei eu…
As adversidades pelas quais aquelas árvores tinham passado, tendo sido privadas de água, pareciam tê-las beneficiado de um modo que o conforto e o tratamento mais fácil jamais conseguiriam.
Todas as noites, antes de ir me deitar, dou sempre uma olhada nos meus filhos, debruço-me sobre suas camas e observo como têm crescido.
Frequentemente oro por eles! Na maioria das vezes, peço para que suas vidas sejam fáceis: “meu Deus, livre meus filhos de todas as dificuldades e agressões desse mundo”.
Tenho pensado, entretanto, que é hora de alterar minhas orações”.
(*) É Capitão da Polícia Militar