Feliz ano novo de 2007

Luiz Carlos Bedran (*)

Fim de ano é a época própria para se fazer um balanço daquilo que ocorreu nos 365 dias e, ao mesmo tempo, fazer previsões para o próximo, no caso 2007. Essa mania vem de longe, como se isso fosse importante para a vida das pessoas. Mas, como toda mania, como toda obsessão dificilmente se consegue evitar, então não resta alternativa senão deixar-se levar por ela.

Assim, refletir sobre o passado, sobre os erros cometidos, sobre as desgraças que ocorreram, sobre as decepções e desenganos, é praticar um duplo exercício de masoquismo, além do que novamente erros, desgraças, decepções e desenganos inevitavelmente continuarão ocorrendo. E tentar relembrar os acontecimentos alegres, os prazeres vivenciados, os breves momentos agradáveis e felizes, não significa nem poderem ser gozados novamente e menos ainda se fixarem eternamente na memória.

Pensar sobre o futuro ou então tentar prevê-lo, como exercício de imaginação, é pior ainda, porque além de ser sempre uma incógnita, uma questão indecifrável e absurda, não teria graça alguma, pois o homem perderia toda a sua liberdade de escolha, o seu livre arbítrio, e aí então tudo seria fatal e previsível.

Mas não há como o ser humano desligar-se dessa obsessão que vem desde os primórdios da humanidade, pois, a esperança obviamente é sempre dirigida para o futuro. E a expectativa de felicidade é o que todos desejam, muito embora “a duração breve de nossa vida proíbe-nos de alimentar uma esperança longa” (Horácio: 65-8 a.C.), que é “um alimento de nossa alma, ao qual sempre se mistura o veneno do medo” (Voltaire: 1694-1788) e que é, para o homem, “a sua razão de viver e de morrer” (Malraux: 1901-1976).

É por isso que os profetas são tão considerados, porque eles levam a esperança aos homens, a esperança de dias melhores, inventam os ideais sem os quais a vida torna-se difícil de ser vivida. Aqueles que têm o pé no chão, os céticos que possuem uma visão filosófica e realística do dia-a-dia, da fragilidade do ser humano, sabem perfeitamente da efemeridade das coisas que conduzem inevitavelmente ao fim previsível de tudo e de todos.

Mas, sonhar é preciso, pois a vida não é somente realidade. Não fossem os idealistas, que seria da humanidade? Eles sonham para que o mundo possa ser melhor; que os homens e as mulheres possam viver em paz; que todos possam ter uma casa onde morar, um abrigo para que sua família possa viver com dignidade; que a desigualdade econômica possa ser diminuída; que não haja tanta exploração entre os seus semelhantes; que todos possam viver condignamente em busca da felicidade e que, entre tantos outros desejos e esperanças, também possa haver uma conciliação justa entre o capital e o trabalho.

Não é sonhar demais, não é exigir demais das pessoas. São sonhos perfeitamente factíveis. Basta apenas haver vontade, aliás, boa vontade, extrema boa vontade. Tentar eliminar ou, pelo menos, diminuir o instinto atávico do ser humano da volúpia do poder, de menosprezar o seu semelhante, de explorá-lo para satisfazer seus desejos mais secretos, da prática constante da injustiça, da idéia que se tem de se procurar levar vantagem em tudo, custe o que custar, pisando sobre tudo e sobre todos.

Lembranças do passado, previsões sobre o futuro, tudo isso faz parte de nosso espírito e ao fim de cada ano não há como deixar de existir.

E assim, seguindo essa tendência universal, este cronista, que não é futurólogo, mas também ainda não tão cético como deveria – pois já viu muita coisa na vida para justificar o ceticismo filosófico que lhe é inerente -, deseja e espera que as pessoas de bem, os homens, as mulheres, as crianças e os idosos, as famílias, o mundo todo enfim, possam viver bem melhor neste 2007, com mais compreensão entre as pessoas, mais humildade, mais tolerância, muita paz, menos desigualdades e, sobretudo, muita felicidade. Feliz ano novo!

(*) É colaborador do J.A.

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