Estamos noutros tempos

Antonio Delfim Netto (*)

O Brasil está reagindo com muita serenidade (e competência) ao desgaste que a crise das hipotecas produziu na economia mundial. Ao contrário do que aconteceu nas crises anteriores, na segunda metade da década dos noventa, o governo não entrou em pânico nem correu a abrir o guarda-chuva para proteger os agentes do sistema financeiro, às custas dos demais setores da economia. Não é o caso de reviver o assunto, até porque "águas passadas não movem moinhos", como adverte em linguagem um pouco mais erudita a frase gravada há alguns séculos no frontispício da Universidade de Nápoles.

Há realmente diferenças marcantes. O presidente Lula, no primeiro mandato, teve que administrar uma dívida externa bilionária que herdou de FHC, numa economia patinando, sob ameaça de recidiva inflacionária e altos níveis de desemprego. Como primeiro passo, aprofundou o ajuste fiscal. E, contrariando as piores expectativas e o preconceito da aristocracia política deu a volta por cima: ajudado, é verdade, pela extraordinária expansão da produção e do comércio mundiais, seu governo soube pavimentar o terreno para libertar o Brasil do constrangimento externo, afastando um dos dois obstáculos principais à retomada do desenvolvimento. Igualmente, com paciência e persistência, manobrou para atrair a iniciativa privada às novas formas de leilões e de concessão para a reconstrução da infra-estrutura, reanimando os setores rodoviário, de ferrovias, portuário, etc. E soube também desatar os nós burocráticos (especialmente na questão ambiental) que vinham retardando a retomada dos investimentos na hidroeletricidade. Com isso, com "a mãozinha de Deus" nas chuvas e mais a suficiência em petróleo, superamos o segundo e decisivo obstáculo ao crescimento.

Não é por acaso que a economia tem colecionado recordes neste segundo mandato: de crescimento do PIB, do emprego formal, da produção industrial, na expansão do crédito interno e dos serviços em geral. Seu governo ressuscitou a agenda do desenvolvimento. Depois de duas décadas medíocres, na contramão da expansão mundial, o Brasil reencontrou o rumo do crescimento robusto. O PIB cresceu mais de 5% em 2007 e continua nessa marcha em 2008 e não será surpresa para mim se chegar ao final do ano crescendo a uma taxa superior a 5% . Depende de nós, depende do governo superar esta marca, com crise ou sem crise lá fora, pois desde que me conheço o Brasil nunca esteve em situação melhor para enfrentar turbulências externas e minha crença é que, em ano eleitoral, é muito difícil os Estados Unidos entrarem em recessão e com isso derrubar o crescimento no mundo.

A grande diferença é que Lula não se deixou influenciar pela histeria especulativa e, mesmo com o seqüestro dos recursos da CPMF patrocinado pela oposição, garantiu a austeridade da política fiscal e não desviou o foco do crescimento. Vai cortar despesas de custeio para manter o investimento público, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento e ampliar as parcerias com o setor privado. Muito mais do que seus antecessores, o presidente Lula percebeu o efeito multiplicador do investimento na infra-estrutura como fator decisivo para manter a economia em crescimento. Está conseguindo mobilizar o empresariado e os trabalhadores, despertando o espírito do desenvolvimento que existe em cada brasileiro.

Se engrenar a nova política industrial-exportadora, cujo lançamento está prometido para este mês de março, "é só correr para o abraço"… como se diz na linguagem do futebol.

(*) É Professor Emérito da FEA/USP – Ex-Ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento. E-mail: contatodelfimnetto@terra.com.br

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