Antonio Delfim Netto (*)
Antes que se abra a cortina para o “espetáculo do crescimento” desejado pelo presidente Lula (e obviamente pela maioria dos brasileiros) precisamos redobrar os esforços para aumentar as exportações e resolver algumas dificuldades internas que retardam os investimentos.
Os resultados da política econômica desses primeiros seis meses aumentaram a credibilidade interna e externa, na medida em que o governo mostrou capacidade de controlar a inflação e melhorou a qualidade do ajuste fiscal, ao perseguir a meta de 4,25% de superávit primário cortando despesas e não aumentando impostos. O crescimento das exportações e dos saldos de comércio exterior aumentaram também a confiança que o país está no caminho certo da redução da vulnerabilidade externa. O “mercado” sente que o governo está no controle, cumprindo o que prometeu no nível macroeconômico. Do ponto de vista da estabilidade, melhoraram portanto as condições para recuperar o objetivo do desenvolvimento.
Para que o crescimento se realize, é preciso evitar futuros problemas com o balanço de pagamentos, que inevitavelmente irão surgir se as exportações perderem dinamismo, seja por conta de excessiva oscilação do câmbio, seja pela falta de empenho em desonerar a produção exportável da atual carga de tributos. A crença manifestada por alguns setores, de que a perda de dinamismo das exportações pode ser compensada com aumento de investimentos, encerra um enorme risco. Isso pode ser revelado de forma trágica nos próximos seis meses, até porque há grandes dificuldades para investir. O aumento dos investimentos exige não apenas a redução da taxa de juro real de longo prazo. Ele depende do financiamento bancário de mais longo prazo, do suporte das agências oficiais, principalmente do Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e do BNDES, da agilização das operações através da FINAME, Moderfrota, Proirriga, Prodoeste, de estímulos às Bolsas de Valores e da eliminação da tributação sobre o capital. O governo deve fazer a sua parte pondo em prática uma política industrial que favoreça o aproveitamento das vantagens comparativas que estão esperando para serem descobertas pelo “animal spirit” dos empresários, tanto no setor exportador como na substituição de importações. É preciso realizar uma verdadeira reforma tributária que permita corrigir as distorções do sistema de preços e reduzir o custo do capital, para agilizar as decisões de investir. Minha insistência em mostrar que o desenvolvimento é feito pelo setor privado decorre do fato que o investimento depende primordialmente do “estado de espírito” dos empresários que enxergam o futuro com esperança. É esse estado de espírito, hoje, que vai determinar o investimento de amanhã e o crescimento da produção e do emprego de depois de amanhã !
(*) dep.delfimnetto@camara.gov.br