Emílio Orciollo se surpreende com o apelo popular do matuto Crispim
Texto: Carolina Marques/PopTevê
Dia desses, Emílio Orciollo estava na praia quando foi abordado por um banhista. Ele queria cumprimentar o ator por ser tão zeloso com a irmã, numa clara alusão ao personagem que interpreta em “Alma Gêmea”, da Globo. Emílio ficou entre perplexo e orgulhoso. Afinal, desde que começou a dar vida a Crispim, o caipira ciumentíssimo da trama de Walcyr Carrasco, dirigida por Jorge Fernando, ele já não sabe mais o que é passar desapercebido pelas ruas. Nem que seja apenas para tomar uma inofensiva água de coco a beira-mar. Por onde anda, o bordão “Ô Mirna!” é repetido à exaustão. “Jamais imaginei que teria essa repercussão. Acreditava no sucesso da novela, mas fiquei surpreso com tamanho carinho”, confessa Emílio.
E pensar que o tal bordão, carregado no “erre” interiorano, foi criado dentro do estúdio, quase numa brincadeira com Fernanda Souza, que faz a tal Mirna. “A gente ainda estava se conhecendo e brinquei com o nome da personagem. O Jorginho Fernando ouviu e mandou eu trabalhar aquilo”, conta o ator. Bastou começar a chamar a menina numa espécie de imitação de Fred Flintstone para que Emílio chamasse atenção. “Provavelmente, este é o personagem mais popular que já fiz e sem ser popularesco”, avalia. Emílio conheceu Crispim em janeiro, seis meses antes da novela estrear, mas desde o ano passado, já sabia que estaria na próxima novela de Walcyr Carrasco. “Ele me ligou e disse que estava escrevendo um personagem para mim”, recorda. Emílio não fazia idéia do que viria pela frente. Nem mesmo quando chegou a ler a sinopse. “A gente tem sempre um indicativo. Mas tudo muda muito. São características, elementos que trazemos para a composição”, pondera.
Assim que soube do matuto que o acompanharia durante oito meses, Emílio tratou logo de fazer várias pesquisas. Queria encontrar uma forma especial de fazer um caipira sem parecer caricato ou cair no ridículo. Recorreu a filmes de Mazzaropi e Chaplin. “Eles têm uma ingenuidade latente, são lúdicos”, analisa. Lembrou-se também dos parentes de Minas Gerais e observou o modo de agir e falar dos moradores de Holambra, cidade produtora de flores no interior paulista, onde esteve fazendo um workshop. “O Crispim existe nestes lugares, é tátil. Estou fazendo um cara de verdade, não uma figura estereotipada. Por isso parece engraçado, porque ele faz parte de determinado universo”, defende-se.
A dificuldade com o “caipirês” nem existiu. Walcyr escreve o texto todo em prosódia, já mastigado para os caipiras da trama. Emílio credita parte do sucesso do personagem aos parceiros de cena, Fernanda Souza e Emiliano Queiroz, o Bernardo. Com Fernanda, a química aconteceu logo de cara. “Ela é muito disciplinada. Hora de trabalho é hora de trabalho. Claro que a gente se diverte, mas temos muita atenção. O Crispim vai bem se a Mirna for bem e vice-versa”, argumenta.
Emílio mantém uma postura de ator teatral. Gosta de viver em trupe e adora observar os mais experientes. Só se refere a Emiliano Queiroz como “Seu Emiliano” e quando está em estúdio faz questão de cumprimentar cada técnico. “Não acredito em ator que só se preocupa com luz, em ficar se protegendo. Graças a Deus só trabalhei com gente que se expõe e acredita num trabalho sério”, garante. Ainda que não se dê conta, já caminha para os dez anos de carreira na tevê. Começou numa participação em “O Rei do Gado”, passou pela Record, onde foi protagonista de “Roda da Vida”, fez cinema, teatro e co-produziu com o amigo Selton Mello um videoclipe do grupo Ira!, com o qual está concorrendo ao prêmio VMB da MTV. Aos 31 anos, pensa um dia dirigir peças e abrir uma escola de teatro. Mas, no momento, imbuído pelo clima romântico da novela, deseja cuidar do coração. “Estou muito romântico. Quero me apaixonar”, avisa ele, enquanto cantarola parte de “Uma Vez Mais”, tema de Serena e Rafael, papéis de Priscila Fantin e Du Moscovis.