Dario Gonçalves da Silva, da EFA para a Rádio Cultura. Nessa passagem pudemos conhecê-lo em meio aos telegramas da U.P.I., via rádio no sistema Morse. Ele e o José Filié alimentavam os noticiários nacional e internacional da emissora que era da família Lupo e que o José Araújo Quirino dos Santos gerenciava. Dario, sempre uma figura carismática, querida por todos, exalando amor contextualizado no seu jeitinho simples, sem ostentação, pronto a servir a qualquer momento. Em todos os setores, especialmente em movimentos religiosos, Dario e a sua querida Zula são uma nota de extrema afetividade. Isso se reflete no espírito da família unida e generosa. Dario é conhecido e amado, recebendo neste sábado o título de cidadania araraquarense. Por direito, porque de fato já o é há muitos anos. Numa assessoria especial da Angélica Bombarda e José Rubens de Barros, vamos mergulhar nas lembranças de nosso homenageado:
“Eu sou lá de São Simão, bairro de Bento Quirino em nosso estado de São Paulo. Sou filho de Lázaro Gonçalves da Silva e de Margarida Beline Gonçalves. Eu me casei com a Dona Zula Hortence da Silva. Eu a chamo Dona Zula pelo respeito e carinho que tenho por ela. Do casamento de 1947 tivemos quatro filhos: Margarida, Maria Cristina, Luiz Antônio, Maria de Lourdes. Deles recebi oito netos e duas bisnetas. A Margarida é casada com Benedito Antônio Ferreira, mais conhecido na sociedade e no serviço odontológico como Benê. O filho Maurício é formado em Odontologia. A Maria Cristina é casada com José Valtemir Lira, funcionária do Ministério da Agricultura. Na mesma área de seu marido, tendo os filhos Otávio e Flávio. Luiz Antônio é casado com a Márcia Pacheco, com os filhos Adriana, Marina e Lígia. A minha bisneta é filha da Adriana. A Maria de Lourdes é professora de inglês no Externato Santa a Terezinha, é casada com José Carlos Seabra. Tem os filhos Fernanda, Daniela e a nossa bisnetinha filha da Fernanda, Laurinha.
Chegada em
Araraquara
Quando cheguei de Bento Quirino, meu primeiro serviço foi na Estrada de Ferro Araraquara, a saudosa EFA. Tive como primeiro chefe no serviço de telegrafista, o ilustre senhor Trifoni Guimarães: escritor, jornalista e um dos revolucionários de 1932. Depois da Estrada de Ferro prestei concurso de Rádio-telecomunicações da Secretaria de Segurança Pública. Em 1941 ingressei nesse setor.
Os outros
serviços
Além de trabalhar para a Secretaria de Segurança Pública, tive outros serviços como comunicador da Rádio Cultura Araraquara. Também no Imparcial, na década de 40. Na época da guerra entregava o noticiário para o jornal do Sr. Antônio Correia da Silva. Desde aquela época estou na família imparcialina, considerado um dos mais antigos colaboradores.
Aposentadoria
só no papel
Aposentei-me depois de 30 anos no funcionalismo público, mas, sempre fazendo alguma coisa porque ainda jovem eu tinha que batalhar pelo progresso da família.
Escritor
A minha condição de escritor começou no Imparcial. Desde há muitos anos tomei gosto pelas crônicas, falando sobre a comunidade araraquarense: esporte, religião, ginástica…
Merece
destaque
Falando-se em ginástica, depois que eu tive um período muito tenso que redundou em três pontes de safena, comecei a freqüentar a terapia chinesa de Lian Gong. Com plena harmonia e ajuda de Deus, da minha família e de meus amigos consegui transpor essa dificuldade.
Chance de
participar
Essa ginástica é extraordinária, todos deveriam fazê-la. Se eu com 87 anos e depois de uma operação coronária continuo andando, correndo, escrevendo, meditando sobre as coisas maravilhosas que Araraquara, acho que todo mundo deveria participar da ginástica Lian Gong. Eu participo dela no Parque Infantil e em outros locais.
Outro livro
No mesmo trilho de Crônicas da Terra, no ano que vem se Deus quiser deverá sair outro livro que está sendo elaborado com calma, paciência para ser do agrado de todos os araraquarenses.
Título e
60 anos de
casamento
Eu fico feliz, tenho uma gratidão muito grande por Araraquara ter proposto a entrega do Título de Cidadão Araraquarense. Projeto da vereadora Juliana Damus e aprovação unânime da Câmara Municipal. Uma homenagem que coincide com a Bodas de Diamante com a dona Zula. Somos um casalzinho aqui da José Bonifácio e vivemos essa alegria dupla. Esperamos que tudo seja para a felicidade da minha família, dos meus filhos, dos meus parentes, dos meus amigos porque amos as pessoas, amo Araraquara.
Clube dos 50
Lembro-me com saudade do Clube dos 50. Que maravilha, lembro do José Rubens de Barros, Trindade, Barbato, Altino, Jorge Bedran, Orlando da Vale, Domingos Bombarda, Rubens de Barros, Brandão Calica, gerente da Citrosuco lá em Matão depois dono da Frutop, Hermínio Pagotto, Mário Setubal, Euclides Viana, Andrião e tantos outros como o Benê, Felipe dos Dias Martins, Arlindo Zanin, Sargento Durval, Clemente Zanin. Nós éramos em 45… é uma satisfação enorme lembrar daquelas reuniões. Vinha até governador, era uma glória. Aqueles concursos de bandas do Estado de São Paulo, os nacionais também.
Tempestade
Na época do Clube dos 50, houve enchente no Rio Grande do Sul. As famílias precisavam de alimento, de roupa e conseguimos arrecadar 50 toneladas de alimento e mandamos para nossos irmãos. Lembramos também de pessoas caríssimas: minha irmã Ercília, as minhas sobrinhas Angélica, Marina, Silvia, Marcelo (que saudade dessa gente bacana), meus parentes todos e os amigos. Sinto que falta alguma coisa na minha vida, é o Clube dos 50 dentro desta querida Araraquara vivenciando a paz, amor, caridade e amizade. Espero que um dia reapareça outro Clube dos 50 para realizar algo mais a favor desta cidade que eu amo de todo coração”.
No livro, com escritos que eternizam fatos históricos de Araraquara, a dedicatória do Dario onde é espelhado seu amor à família:
À minha bondosa esposa Desolina Hortence da Silva (Zula), uma companheira fiel e amiga para todos os momentos de nossa vida conjugal, o meu abraço de afeto e carinho.
Sempre é bom lembrar dos filhos e homenageá-los em profusão, pois são o prolongamento da existência familiar: Margarida Marina, Maria Cristina, Luiz Antonio e Maria de Lourdes.
Eles estão aqui, meus netos, com uma auréola de sabedoria da época e de viva esperança progressista: Fernanda, Maurício, Adriana, Marina, Daniela, Otávio, Flávio e Lígia.
Minhas bisnetas, estrelinhas que iluminam o espaço familiar: Rafaela e Laura.
Meus genros, suportes máximos para a formação da família e que têm a minha mais eloqüente e sincera amizade: Benedito Antonio Ferreira, José Valtemir Lyra e José Carlos Seabra.
Minha nora Márcia, esposa dedicada, que preenche com amor esta página da família Gonçalves da Silva.
A vereadora Juliana Andrião Damus foi autora do projeto de Decreto Legislativo (Nº 649 de 13 de junho deste ano) dispondo sobre a concessão do título de “Cidadão Araraquarense” ao Dario a ser entregue neste sábado (4), às 19h, no plenário da Câmara Municipal.
Ah, que saudade da “Maria Fumaça” que saiu da gare da CP/EFA, o berço do entroncamento ferroviário CP/EFA. Dario, ela deve retornar para dar visibilidade ao Museu Ferroviário que ganha a atenção do Edinho Silva. O nosso prefeito tem uma verba de quase R$ 2 milhões para fazer justiça às paralelas de aço que foram a marca registrada da cidade.
Até breve, Maria Fumaça!
Nós vivemos anos a fio próximos à Estrada de Ferro Araraquara, sentindo o cheiro de fumaça de seus trens, ouvindo o barulho das batidas dos engates quando em manobra no pátio, os prolongados apitos das locomotivas ao darem partida com sua composição e a trepidação das rodas de ferro transpondo as emendas dos trilhos. Dedicávamos respeito e admiração pela figura elegante e bondosa do Chefe de Estação, o senhor Falcão, de saudosa memória, e lembramos quando ele percorria a plataforma entregando o "Staff" ou inspecionando o serviço sob sua responsabilidade, tudo isso formando forte visão para nós, contagiando nossa alma de agradável misticismo ferroviário.
Desde criança, quando morávamos na Rua 1, perto da União Operária, já éramos enfeitiçados pelas coisas da EFA. Sonhávamos ser um dia funcionários da Estrada, um ideal de quase toda a juventude araraquarense. Aos 15 anos, em 1935, já éramos praticantes de Telegrafia da Estrada e tudo o que se relacionava a ela, tornava-se para nós motivo de orgulho. Funcionários da Estrada tinham crédito em qualquer lugar, gozavam de boa reputação, pois tinham a fama de serem corretos em suas atitudes e cumpridores de seus deveres perante a sociedade. Aos 16 anos, já manejávamos bem a telegrafia, tanto no sistema inglês como no Morse, conhecido também como pica-pau. Foi, nessa época , que recebemos um comunicado informando que a Baronesa visitaria Araraquara. Pensávamos que a Baronesa nada mais era que uma senhora pertencente à família real, residente em Petrópolis. Mas não era nada disso, pois tratava-se, de fato, da visita da locomotiva Baronesa, famosa pela sua antiga construção na Alemanha e pelo fato do imperador D. Pedro II ter viajado nela por diversas vezes.
Diz a história do Brasil, que Irineu Evangelista de Souza, Barão de Mauá, foi considerado o pioneiro do tráfego ferroviário no país. A sua primeira locomotiva, hoje relíquia nacional, foi chamada de Baronesa pelo povo. Araraquara teve a honra de recebê-la em 1936 e a sua estadia na cidade foi uma festa, um sucesso. Todo mundo queria ver de perto, passar a mão e subir na Baronesa, inclusive o então prefeito José Maria Paixão, demais autoridades e o povo em geral. Várias manifestações assinalaram a presença desse trem de ferro.
Após algum tempo em Araraquara, a Baronesa seguiu para Petrópolis, onde repousa placidamente no Museu Histórico da cidade. Enquanto a Baronesa descansava em seu ninho de origem, em 17 de Julho de 2000, a Maria Fumaça despedia-se de Araraquara , o seu berço, para enfrentar uma UTI em Campinas. De início temíamos que não voltasse mais, ficasse em definitivo na Cidade das Andorinhas". Mas, felizmente, não é o que vai acontecer, pois segundo informações colhidas na ocasião de seu embarque em caminhão, em 17 de julho de 2000, a Maria Fumaça retornará para Araraquara depois de concluído o serviço de restauração. Possivelmente deverá ficar ausente por mais de 6 meses, mas retornará para a Morada do Sol para dar início ao Museu da Estrada de Ferro Araraquara. Nós sabemos que parte do acervo que preserva a memória da EFA foi para Ibitinga e Trabiju. Será que os araraquarenses não têm sensibilidade suficiente para lutar pela conservação da memória de uma das mais importantes ferrovias que já existiu no país? Araraquara merece a construção do Museu Ferroviário e, com a volta da nossa Maria Fumaça e com a retomada do acervo esparramado por aí, acreditamos que algo de positivo nesse sentido deverá ocorrer. Que assim seja!