Eles entram no meu filme!

A menina ávida pelo vôo-solo aportou em Araraquara-Unesp, após 1 ano de Direito em São José do Rio Preto. Deixou a grade curricular do curso de Ciências Sociais e Jurídicas, mas, trouxe a sua essência: isonomia no bônus, solidariedade no ônus e o fim do direito individual quando começa o do semelhante. Andréa, filha de bancário e professora, esteve em vários municípios, antes de chegar para conhecer o amor de sua vida, fazer ninho (com os raminhos da participação popular) e cuidar de seus filhotes. Uma inserção que a cidade valoriza e admira, uma bandeira de ideais para que todos tenham aplacada a fome por comida e conhecimento e que os gêneros convivam numa relação de igualdade e respeito, tocadores de objetivos nobres. Antes, no entanto, Andréa impulsiona ações objetivas para combater a dolorida desigualdade de gênero, acolhendo as mulheres fustigadas (ainda) pelo machismo que teima em fazer ponto em esquinas invadidas pela penumbra. Andréa, ganharia um livro como peça vestibular de uma existência rica em conteúdo e formatada para deixar rastros solidários e criativos, mas, como enfrentamos a ditadura do espaço, apressamos em colocar aspas para que ela fale de suas experiências.

“Eu nasci em 1968, no dia 7 de Setembro, em Santo André. No decurso do conhecido golpe militar que passa a ter mais sentido na minha vida quando vou conhecendo um pouco mais a história.

Grupo Escolar

Na Educação Moral e Cívica, Estudos de Problemas Brasileiros… tenho uma lembrança. Depois fui entender o que minha mãe dizia quando queria dizer que uma coisa estava ruim. Ela dizia ‘tá russo’, uma referência crítica à União Soviética, era o perigo da União Soviética para o Brasil. Portanto, não tenho memória da ditadura. Tenho memória da abertura política porque eu já era adolescente, fui bater panela, fui para as ‘Diretas Já’ que acontecia. Estava morando em Rio Preto, compreendi que a gente vivia o silêncio, o processo de abertura e o que vinha pela frente. Foi nesse momento também que eu me encontrei com o PT.

Sou filha de bancário

(Euclídes Túbero),

minha mãe é professora

(Martha de Cássia

Souza Túbero).

Eu morei em Santo André até aos 8 anos de idade, foi a primeira transferência do meu pai para São João da Boa Vista. Um processo bacana, consegui me libertar um pouco. Santo André era muito dentro de casa, eu não podia sair. Coisa da cidade grande.

São João da Boa Vista me faz lembrar de uma bicicleta verdinha, foi a minha sensação.

Com 14 anos,

Rio Preto

Fiz a 7ª, 8ª série e o colegial. Entrei em Direito e nem cheguei a fazer um ano. Voltei ao Cursinho, sem ter certeza do caminho. Prestei o vestibular para Ciências Sociais e entrei. Vim para Araraquara em 1988.

A liberdade

Eu queria muito uma experiência de sair de casa, morar fora, construir o meu vôo solo. Araraquara é o lugar que mais tempo morei, então me considero uma araraquarense.

Mestrado e

Doutorado

Na Unesp-Araraquara, discutindo gênero e violência. Na graduação a minha monografia foi relacionada aos assentamentos. Trabalhei quatro anos com a Vera Botta, fui orientanda dela. Vale dizer, boa parte da minha trajetória de pesquisa, meu aprendizado eu devo a Vera. Devo a Lucila que me abraçou tanto no Mestrado como no Doutorado, mas, desde o começo tive muito interesse pela questão de gênero.

Posição

secundária

das mulheres

Interessava conhecer como isso se construía na sociedade, como se tecia essa rede, essa estrutura social, enfim, o Mestrado foi relacionado aos contos de fada. Eu já trabalhava nos assentamentos, com a cultura popular, contos, narrativas e selecionei ‘Chapeuzinho Vermelho’ que passou a ser uma história de uma criança e um lobo. Na realidade, ela nos remete ao século 17 e era um aviso de mulheres mais velhas para as moças, do perigo do lobo (metáfora de homem). Reconstitui essa história e no Doutorado continuei trabalhando com contos. Tinha decidido isso e já estava inclusive fazendo análise quando aparece o Francisco de Assis Pereira, o famoso Maníaco do Parque. Examinei as notícias e elas eram muito parecidas com a narrativa do conto ‘Chapeuzinho Vermelho’, com a figura do lobo voraz e destrutivo, da vítima inocente, pura e besta, os familiares, a floresta… era mais ou menos a mesma e por isso comecei a pensar a construção de uma nova sensibilidade em relação à violência de gênero.

Mandato no

Fundo Social

A primeira ação foi identificar claramente quem eram as pessoas que vinham buscar solidariedade no Fundo Social. Não foi uma surpresa tanto a Enide (presidiu antes e continuou trabalhando aqui conosco até o falecimento) como a Helenice, elas tinham claro no cotidiano como é que era. Fizemos a pesquisa e vimos que são mulheres na faixa de 30 anos, de dois a três filhos, das classes populares, sem qualificação profissional que vinham em busca de algum benefício, algum suporte. Assim, passamos a orientar uns projetos para as áreas determinadas.

Somatória

dos gêneros Acho que a gente tem uma construção ainda do que é ser homem e do que é ser mulher. Tenho uma leitura de realidade com avanços em relação ao status da mulher, ao fato de a mulher ocupar a cena publica (…) mas muito tem ainda que ser elaborado.

Mensagem

Uma coisa que eu tenho pensado muito. Tivemos neste ano as plenárias, as conferências para discutir a situação social da mulher, os planos de políticas públicas específicas para as mulheres. Algo que tem chamado a atenção é o olhar para o espaço privado. Boa parte das situações de violência acontece no âmbito domestico porque os homens não paternam, porque há uma noção equivocada de que a mulher vai para o mercado de trabalho porque ela quer competir com o homem. Acredito que não é isso. O ser humano tem que buscar sua integralidade, tem que se reconhecer no público e no privado. Todo mundo quer esse reconhecimento. O que houve até então era a mulher referida ao privado e o homem referido ao publico, a realização nessa dimensão pública era só masculina. As mulheres disseram: nós queremos isso também, temos esse direito. Assim, acho que os homens têm que olhar para o privado, as mulheres estão sobrecarregadas e não têm culpa. O problema é que a gente não negociou no privado a distribuição de responsabilidades, de tarefas. Então, acho que a mensagem para homens e mulheres, mais para homens: que eles examinem com carinho a dimensão privada da vida deles”.

Só para concluir.

De 0 a 10, qual

a nota de seu

marido-prefeito?

Eu tenho uma profunda admiração pelo Edinho, uma figura batalhadora. É alguém que eu vi crescer na política, uma figura muito honesta, admiro a determinação do Edinho, a sua força para implementar as coisas em que acredita… então eu só tenho elogios: nota 10 com louvor e distinção, afirma Andréa.

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