Eles entram no meu filme

Um olhar de gente leal, transparente, que não tem nada para esconder. Pelo contrário, honra-se de tudo que ocorreu em sua vida e fez das dificuldades o trampolim para embasar as vitórias. Um jogador que ainda hoje fica emocionado ao se lembrar dos embates futebolísticos. Só não ficou no seleto clube dos melhores do Brasil porque foi perseguido por uma contusão no joelho. Tipo da que acometeu Ronaldinho e tantos outros, mas, infelizmente naquela época a medicina não tinha o procedimento correto e saneador. Mas João Franco tentou, não se satisfez com o diagnóstico inicial. Não deu… o joelho dobrou-se e ele ficou olhando o gramado com muita tristeza. Lágrimas brotaram e teimam em retornar até agora quando se recorda da luta em campo e fora dele. Uma infância marcada por ausências e alguma insegurança, mas, nada o impediu de construir uma personalidade sólida e vencedora. A alegria maior foi encontrar a Cati, a sua doce e meiga namorada que adorna sua vida em Araraquara junto aos filhos, noras e netos.

João Francisco Franco, o jogador, o vendedor de máquinas Olivetti e empresário da Maquip que saiu do mercado com a chegada dos computadores. Franco, joga na vida com emoção e mentaliza a vitória dos que caminham com a verdade e vontade solidária.

Vale a pena conhecê-lo um pouco mais. É gente nossa, da melhor qualidade moral e profissional.

“Eu nasci em Trabiju (era distrito de Boa Esperança do Sul), em 1934, estou com 72 anos. Meu pai faleceu em 1 941. Eu com 7 anos, minha mãe e meus irmãos mudamos para São Carlos, posteriormente São Paulo onde ela trabalhou no Colégio Santana, tocado pelas freiras da Irmandade de São José. Uma casa só para meninas…

Orfanato, a

minha morada

Diante da presença essencialmente feminina, as freiras me arrumaram um lugar no Orfanato Sampaio Viana. Parecia destino, essa casa ficava atrás do Estádio Municipal do Pacaembu. Depois fui para um orfanato na cidade de Poá, coordenado por padres holandeses. Fiquei lá uns três anos e depois fui encaminhado para o Seminário de Padres. Em Ferraz de Vasconcelos ganhei uma vaga na Congregação do Sagrado Coração, permaneci por 4 anos.

Vitrine para

meu futebol

Onde os seminaristas iam jogar era comuns os elogios à bola que eu batia. Mandava mesmo no pedaço de campo, impunha respeito e participava ativamente das vitórias. Percebi que o meu negócio era jogar futebol e não ser padre. Fui para casa e pedi uma chuteira e uniforme para minha mãe, a fim de treinar na Portuguesa de Desportos.

Trabalho

& Futebol

O técnico me separou e pediu para ficar com eles. Arrumei emprego na Paula Souza, com uns gaúchos que gostavam muito de futebol e torciam para o Grêmio de Porto Alegre. Aceitaram que eu pudesse faltar um dia da semana, parte da tarde, para treinar na Portuguesa. Por volta dos 17 anos estava desesperado para me tornar profissional. Fui treinar no Nacional, como profissional.

Nacional

me quis

Com os profissionais mostrei meu potencial e o clube se interessou. No entanto, um vinculo com o time amador da Portuguesa não permitiu a liberação e diante disso teria que ficar 2 anos parado. Fiquei e para manter a forma joguei na várzea da capital. Ganhei algum dinheiro, mas, chegou a hora de servir o Exercito Nacional. Quando estava para sair, para dar baixa, num jogo qualquer chegou um senhor de uns 70 anos para dizer que era sócio-fundador de Nº3 do Corinthians e queria que fosse treinar no Parque São Jorge.

Ano de 1 954,

no Coringão

O treinador era José, apelidado de Rato. Um antigo jogador do Corinthians e eu fiz o treino contra os profissionais. Na época o Corinthians tinha o melhor time de São Paulo, campeão do quarto centenário. Tive a glória de treinar, como zagueiro central, contra uma linha espetacular. Como é praxe, o goleiro titular fica no time dos reservas. Então joguei com Gilmar, o eterno goleiro. Enfrentei a linha de Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carboni e Nelsinho. Uma glória mesmo.

Osvaldo Brandão,

o técnico famoso

Rato saiu e chegou Osvaldo Brandão, só que eu era revelação do que foi embora. Por isso, tive que aceitar convite do Goiano (quarto-zagueiro do Corinthians), fui jogar em Batatais. Com uma dificuldade para registrar o time na FPF apareceu a Prudentina. Eles queriam meu passe. De avião cheguei em Presidente Prudente. Contra o Marília foi o meu primeiro jogo.

Fui aprovado e assinei contrato com a Prudentina. Deu tudo certo eu me tornei um líder do time, mas, tive um azar. Depois de alguns meses, torci o joelho num lance casual.

Com 20 anos

e sem jogar

Fazia tratamento, benzia e torcia o joelho de novo. Com problema no joelho não tinha condição de jogar. Com isso a Prudentina me liberou e fui para o Rio de Janeiro atender ao convite do Sr. Antoninho par treinar no Canto do Rio. Com aquele joelho lesionado treinei para fazer amistoso na cidade de Três Rios. Contra o Americano e o joelho pifou novamente. Depois de refletir muito, acabei numa noite de Natal de 1 955, pendurei as chuteiras. Triste, acabrunhado…

Trabalho para

arrumar grana

Não me conformava em abandonar os gramados, era minha vida. Assim, comecei a trabalhar como vendedor, como um verdadeiro camelô antes de ser contratado por uma empresa de barbante. Juntei determinada importância e fiz uma cirurgia… mas, não deu certo.

Perdi o futebol

e ganhei a Cáti

Fui obrigado a desistir do futebol, a única compensação é que se eu não tivesse me machucado e não tivesse acontecido tudo aquilo provavelmente não teria encontrado a Cáti. E hoje se tivesse que escolher ela estaria em primeiro lugar. Ganharia até do meu querido futebol.

48 anos de

muito amor

Com a Cáti ganhamos três filhos, noras, netos. Uma família abençoada e que se ama febrilmente. Da vida, não tenho queixas. Só gratidão por tudo que aconteceu. Somos felizes, graças a Deus.

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