O Ernesto Lia, um capricorniano nascido a 28 de dezembro. Sua realização é a família onde curte uma relação amorosa, um convívio com pessoas que admira, uma fonte de equilíbrio para enfrentar desafios do dia-a-dia. Ernesto ama, cria, inquieta-se, produz, busca sua praia com fé e determinação, debate-se e vence porque tem foco e competência. Amando sempre, mas, servindo com medo, sim! Ernesto tem medo de ferir o semelhante até com palavras. Ernesto é leal, altamente sensível e amigo dos amigos. Cheio de energia, com elevada espiritualidade para enfrentar as adversidades. Um ser iluminado, um artista abençoado, premiado e respeitado internacionalmente. Ernesto é gente nossa, querido e benemérito e com título de cidadania de Ribeirão Preto. Mas, Ernesto Lia é nosso: com a sua vontade férrea e persistência inquebrantável. Vamos conhecê-lo um pouquinho mais?
“Meu pai era José Lia, italiano naturalizado brasileiro. A minha mãe brasileira, filha de italianos, Paschalina de Lucca.
Meu pai tinha gráfica, foi músico (clarinetista e saxofonista).
A primeira
comunhão
Fiz a preparação religiosa na Igreja de Santa Cruz. O grupo escolar no Antônio J. de Carvalho. Em seguida o IEBA e neste meio de tempo fui Mariano. Fui criado na Católica Apostólica Romana. Era uma criança e sentia algumas diferenças que se acentuaram. Atualmente vejo Deus nas pessoas e, assim, ao amá-lo respeito os semelhantes, os que caminham em busca da Verdade e Vida. Sou um livre pensador…
Escola de
Belas Artes
Desde o Grupo Escolar guardo somente um caderno de 4º ano: o de desenho. Tive como professor Vespasiano Veiga, a Aracy Nogueira em seguida e fui criando um amor à arte. Tanto que eu tinha problema nas aulas ginasiais. Os professores implicavam porque eu desenhava durante a aula.
Artigo do Célio
Biller Teixeira
O Célio comenta sobre uma aula de história, tínhamos um professor severo (Carvalhoza). Era bravo, temido e ele estava dando uma aula sobre a noite de São Bartholomeu e eu desenhando… em dado momento percebi o silêncio e ele me chamou. “Traga o pergaminho onde estava desenhando”. Olhou e disse: “sabe que aqui não é aula de desenho, por que o senhor faz isso?”. Não respondi e ele afirmou: “o senhor vai ter dois em história este mês pela sua presença. Se fosse pelo desenho lhe daria 10”. Com isso ele me estimulou, a febre foi pegando. A minha professora de Física, a Diva Jóia, ela entrava na aula e dizia: “Ernesto Lia se você não fizer o meu retrato você não vai ter nota este mês”. Era uma brincadeira atrás da outra e eu fui levando a sério.
Escola de Belas
Artes renascendo
Tinha tendência para desenho, quando falei em fazer o curso meu pai e minha mãe aprovaram de imediato.
Mas, não fiquei para fazer o aperfeiçoamento completo porque eu teria mais dois anos. Fiz um ano e aí está o xís da questão: todo mundo se transformou em modernista. Eu não achei justo porque queria fazer um trabalho consciente (como acredito estar fazendo até hoje), sabendo que eu estou realizando exatamente o que acho lógico.
Denominação
de estilo
Tenho muitos certificados, inclusive do exterior: eles me classificam como pintor impressionista. Eu tenho raízes no academismo. É evidente que isso teria que acontecer. Foi o que eu disse há pouco: a retaguarda está ao alcance de qualquer inteligência mediana, qualquer pessoa pode aprender. É necessário o artista conhecer, para ter livre acesso no campo e trabalhar de verdade, é saber o que ele está traçando. Posso até nem ser uma coisa de outro mundo, mas, no que diz respeito a essas leis, leis de principalidade, inclusive essa valorização de perspectiva aérea. A perspectiva aérea é importante para sentir os planos…isso só é colocado em evidência por quem tem conhecimento.
A indução
espiritual
Eu acredito que em grande parte existe. Teria até fatos para relembrar. No entanto, gostaria de passar longe desse tema. Interessante quando você termina um trabalho, uma imagem e você acha que viveu algo semelhante. Na realidade, como se isso tivesse fluído num transe. Quando trabalho perco a noção do tempo…
Participação de
Ivo Dall’Acqua Jr
“Acompanhando a entrevista do J.A. lembrei-me de um momento em que associei uma cena ao Ernesto Lia. Foi no espetáculo ‘Falso Brilhante’, a Elis Regina e todos artistas que estavam em cena terminavam o espetáculo varrendo o palco, com vassouras prateadas. Eles davam glamour a um cotidiano simples… quando vi aquela cena me lembrei do Ernesto porque ele tem uma elegância, conserva tudo aquilo que recebeu de educação, de finesse. Mas, ele também tem um cotidiano que trata com tanto respeito que essas coisas, muito simples, ficam muito bonitas quando vividas por ele. E aquela cena me remeteu ao Ernesto e vice-versa. Aquela coisa que o artista é um ser humano, ele não tem só a representação. Ele tem a construção de um processo e a construção é um processo doloroso.
Bem, quero fazer uma pergunta ao Ernesto: ele falou do impressionismo, do academismo, mas, não falou de um lado muito especial onde ele é praticamente impar, pelo menos aqui no Brasil: o retratista.
Onde está o retratista
que não tem
trazido coisas
novas para
nós, por quê?
“Agora entra uma história. Eu até fico feliz em lembrar meu início de carreira. Quando deixei a Escola de Belas Artes eu fui me aperfeiçoar com um italiano, Caetano Di Gennaro. Estagiei durante dois anos e ele dizia que via em mim potencial e me dizia que tinha nascido para pintar retrato. Fui me lançando na vida profissional, enfrentei a critica de São Paulo e Rio. De São Paulo, o Luis Martins que era um crítico respeitadíssimo (Estadão) e o Fernando Góes da Escola de Jornalismo Gásper Líbero. Luis Martins achava que eu deveria ficar no óleo, nas paisagens. Achava que minhas cores eram arbitrárias, as pinceladas deformantes mas nem por isso chocantes. O outro crítico enaltecia os retratos. Dizia que era fácil confundir o aluno com o mestre, eu com Di Gennaro. Aliás, nunca gostei disso.
Levei muito
tempo para
ter domínio
Essa, a história dos retratos. Levei muito tempo para ter domínio, você vê os retratos… são em uma tinta e as paisagens de outra. Levei muito tempo para ter domínio sobre as duas técnicas, sem permitir a interferência entre uma e outra. Tanto que eu posso sair de um óleo e ir para o pastel, sem qualquer interação.
Sucesso na
França
Eu tenho um retrato recente (vou te mostrar), foi divulgado na França. É de uma pessoa brilhante, amiga ímpar: a Inayá Bittencourt e Silva. Mostro dois momentos da minha arte, numa mesma imagem. (Retratos à página 1)
Ernesto, o que
falta no mundo?
Amor, respeito e honestidade. Isso infelizmente falta no mundo. Temos uma carência enorme de afetividade. Por isso a minha preocupação em não ofender ninguém. Fui acostumado a amar, a sorrir e a gostar… só que a vida está ficando difícil. Mas, enquanto respirar vou amar e respeitar”, afirma o artista que honra Araraquara e sua gente.
Irmãos: Anunciatta, Yole, Raphael, Maria Rosa, Francisco, Vera, Carlos André, Maria Antonia, Maria Tereza e Ana Maria.