Eleições 2022: as faces das mulheres estampadas nas urnas

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Edna Martins (*)

Há quem pense que o 8 de março é um dia apenas de homenagem às mulheres, quando flores e parabéns tomam as conversas e as redes sociais de maneira insistente. Longe de comemorações, o Dia Internacional da Mulher serve como lembrança da luta feminina pela equidade e dá visibilidade ao ainda longo e difícil caminho a ser percorrido neste sentido.

Neste ano, por exemplo, a ONU (Organização das Nações Unidas), terá como tema “Igualdade de gênero hoje para um amanhã sustentável”. Além do reconhecimento sobre o papel de mulheres e meninas na mitigação e respostas às mudanças climáticas, o tema explicita o quanto mulheres são mais afetadas que homens por tais mudanças.

Isso porque elas representam a maioria das pessoas em situação de pobreza no Brasil e no mundo, o que as torna mais expostas aos impactos das mudanças climáticas, como desastres naturais, secas ou inundações.

Como exemplo, as mulheres são, de maneira geral, as responsáveis por obter água e comida em comunidades mais vulneráveis tornando a tarefa mais complexa em tempos de secas. Em caso de comunidades rurais, efeitos climáticos como as secas provocam o êxodo dos homens, que migram em busca de melhores condições e deixam para trás as mulheres com toda a carga de responsabilidade da família.

A feminização da pobreza, termo que vem desde os anos 70, é um fenômeno multifatorial que demonstra bem claramente que a luta feminina ainda está muito distante do fim. Mulheres representam 51,7% da população brasileira e formam maioria dos pobres do nosso país. Das 108,4 milhões de mulheres brasileiras, 34,1 milhões, ou 31,5%, estão na linha da pobreza ou da pobreza extrema.

Em linhas gerais, isso decorre de dois fatores principais: a baixa escolaridade e os trabalhos precários a que são submetidas as mulheres. Barreiras visíveis e invisíveis levam as mulheres para esse lugar de vulnerabilidade, como a gravidez e o casamento precoce, o abandono da escola e sua consequente falta de perspectivas.

Além de estarem mais expostas à violência e ao abandono por parte do companheiro, que se omite no compartilhamento das despesas e cuidados com a família, as mulheres em situação de vulnerabilidade acabam ocupando postos de trabalho precários ou de menor remuneração.

Mesmo as inseridas no mercado de trabalho formal respondem a um padrão de desigualdade na ocupação de cargos melhor remunerados ou de liderança e rendimentos inferiores aos de homens com a mesma ocupação. Em média, os salários das mulheres representam 77,71% do de um homem com mesmo cargo.

A luta das mulheres por equidade é complexa e requer mudanças profundas na sociedade e nas políticas de apoio. Só será possível falar em igualdade de gênero quando a ambos foram dadas as mesmas condições de jogo. E atualmente, nessa partida, as mulheres já saem perdendo.

Ainda hoje, século XXI, os cuidados com o grupo familiar, em especial filhos e pais idosos, são responsabilidade feminina, legado de uma sociedade que deu à mulher o lugar de cuidadora (dos filhos, da casa, da família) enquanto o homem ocupava o papel social de provedor. Há, portanto, que se elaborar uma rede de políticas públicas de proteção e cuidado que inclua a infância e idosos, dando à mulher condições plenas de se dedicar ao estudo e ao trabalho e perspectivas para que as nossas meninas, mesmo que inseridas em um contexto social desfavorável, se vejam em perspectiva e com condições de assumir um papel social que não apenas o de esposa/mãe.

Neste ano, celebramos os 90 anos da conquista do voto feminino no Brasil. Apesar de todos os avanços, ainda estamos longe de nos vermos representadas no processo eleitoral e na política, apesar de representarmos 52,6% do eleitorado. É preciso, urgentemente, mudar essa realidade. É o processo democrático da política e a participação nos governos que, ao lado da sociedade civil, fará as mudanças necessárias para alterar a realidade da mulher em nosso país.

Como reflexo da sociedade, a política é também um lugar onde sofremos violência e discriminação, mas é, tenho convicção, nosso maior espaço de luta e onde obteremos grandes vitórias. Estamos em 2022, ano de eleições que nos chamam ao diálogo e à responsabilidade. Vamos à luta!

(*) É socióloga, doutora em linguística, especialista em gestão pública, Coordenadora de políticas para as mulheres no governo do Estado de São Paulo e Presidente do Secretariado de Mulheres do PSDB-SP.

(José Angelo Santilli – e-mail: [email protected])

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