Aqui no Brasil, as pessoas são chamadas conforme a preferência dos amigos e parentes, se eles gostam mais do nome, do sobrenome, do apelido ou combinando uns e outros.
Entre nós médicos, cito o caso de dois deles, muito saudosos, que eram chamados sempre pelo nome completo: o Oto-Rino Dr. Ruy Toledo e o Radiologista Dr. Seth-Hur Cardoso.
Muitos de nós somos chamados pelo primeiro nome ligado a um dos sobrenomes: Dr. Paulo Homem, Dr. Jorge Hudari, Dr. Marcos Arbex, Dr. José Ângelo, Dr. Carlos Fernando, Dr. Sérgio Macedo, Dr. Luiz Gonzaga, etc.
Vários médicos da cidade, já falecidos, foram sempre chamados pelo último sobrenome: Dr. Mazzi, Dr. Granata, Dr. Sabbag, Dr. Nigro, Dr. Graeff, Dr. Barbieri, Dr. Cammarosano, Dr. Berênguer, etc.
Cito o exemplo do saudoso e competente Patologista, Dr. Henrique Pedro Couto César, que era chamado por um dos sobrenomes: Dr. Couto.
Praticamente, todas as médicas da cidade são chamadas pelo primeiro nome e todos se lembram de médicos que eram ou são chamados sempre pelo primeiro nome: Dr. Syrthes, Dr. Tuffy, Dr. Wilson, Dr. Amaury, Dr. Anuar, Dr. Calil, Dr. Gerson, Dr. Gastão, Dr. Maurício, Dr. Lineu, Dr. Wamberto, Dr. Edelton, Dr. Valny, Dr. Renato, Dr. Ruy, etc.
Em meu caso pessoal, fui sempre chamado Dr. Guaracy e digo até que ficaria descontente se me chamassem Dr. Costa.
Nos Estados Unidos não há escolha; todos são chamados pelo último sobrenome, inclusive os estrangeiros. Tenho um ex-cunhado chamado Mozart Garcia da Silva, que vive nos Estados Unidos, sendo chamado por todos Mister Da Silva. Eles costumam incluir esse DA ou DE.
No caso dos Presidentes da República, os americanos escrevem o nome ou apelido mais o último sobrenome: Jimmy Carter, Bill Clinton, Harry Truman, etc. Eles fazem o mesmo com os presidentes estrangeiros e todos os jornais do mundo os imitam em seus jornais e revistas.
Consumada a eleição do Lula para nosso futuro Presidente, acho que os estrangeiros ainda não entenderam que a palavra "LULA" foi um apelido acrescentado e estão na dúvida sobre como deverão chamá-lo nos próximos quatro ou mais anos… Quando entenderem isto, os americanos irão escrever "President Lula Da Silva". E na certa os demais jornais do mundo irão seguir essa mesma denominação.
Há 12 anos, o povo da Polônia, terra de nosso atual Papa, elegeu, para Presidente, um operário sindicalista cujo nome saía em todos os jornais naquela regra americana: Lech Walesa, sendo Lech o apelido dele que veio de um rio afluente do famoso Rio Danúbio, e Walesa o último sobrenome.
Nestes dias recentes, muitos jornais do mundo, sem saber ao certo como referir-se ao nosso novo Presidente, escreveram simplesmente Lula, tentando copiar nossos noticiários brasileiros.
Um dos jornais, porém, tentando evitar alguma burrada, seguiu a regra do uso do último sobrenome e se referiu ao Lula como "DA SILVA". Foi o "FINANCIAL TIMES", que é um jornal de negócios editado nos Estados Unidos, cujo recorte estou colocando aí do lado esquerdo.
Pretendo mandar um e-mail ao "Financial Times" sugerindo que eles comecem logo a escrever "LULA DA SILVA" porque tenho certeza que os jornais estrangeiros irão copiar e escrever muito sobre o Governo Brasileiro…
Em todos os países, acredito que não será difícil dizerem o nome Lula da Silva. No Japão, porém, irá ser um problema. Vejam só: na língua japonesa não existe o som da letra L, o DA existe, o som SI não existe, tanto que meu nome eles pronunciam GUARACHI, o L sozinho eles dizem RU e depois vem o som VA que será outro enrosco porque eles não têm a letra V, que eles trocam por B. Assim sendo, estou vendo a TV japonesa todas as noites para ouvi-los dizer: "RÚRA DA CHÍRUBA".
Como escrevi há pouco, não consigo aceitar que me chamem Doutor Costa. Inda bem que isto nunca aconteceu.
Já contei aos leitores que, na década de setenta, fiz um estágio de 4 meses nos Estados Unidos, no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Jackson Memorial, cujo cirurgião-chefe era o Dr. Ralph Millard.
Quando ele me mandou uma carta, na qual me convidou para estagiar com ele, ao invés de escrever no alto "Dear Doctor Guaracy", ele escreveu ao modo americano: "Dear Doctor Da Costa". Fui ao Consulado Americano em São Paulo para obter o visto especial de 4 meses em meu passaporte e eles me chamaram "Mister Da Costa".
Voltei prá casa com o passaporte acertado, mas comecei a ficar preocupado. Ser chamado "Mister Da Costa" apenas uma vez no consulado, tudo bem, mas ser chamado "Doctor Da Costa", lá no hospital americano, durante 4 meses, achei que não iria gostar de jeito nenhum.
Tive duas idéias ao chegar lá no Hospital Jackson Memorial. Primeiro, comprei um avental comprido igual ao que os médicos de lá usavam e bordei Dr. Guaracy em vermelho bem grande. Devo esclarecer que levei daqui um estojo com linhas e agulhas e que sei fazer monogramas. Segundo, escrevi meu nome invertido no quadro negro que havia na sala de reuniões do Dr. Millard: "Lourenço da Costa Guaracy". Eles engoliram e eu fiquei com o nome do jeito que eu queria: Doctor Guaracy, como se Guaracy fosse meu último sobrenome.
Deu certo, mas surgiu um outro problema: os americanos tinham dificuldade para pronunciar meu nome, mesmo lendo no avental. Uns dez dias depois que estava lá, o gerente do Banco Barnett me ligou no telefone do hospital. A telefonista, sem saber como pronunciar meu nome, teve uma saída e gritou no alto-falante: "Telephone for Doctor Brazil". Todos no hospital escutaram e gostaram da idéia. A partir daquele dia, e por 4 meses, todos passaram a me chamar: "DOCTOR BRAZIL".