Marilene Volpatti
Para determinadas mulheres, desistir de uma carreira sonhada e dedicar-se ao lar, não significa um retrocesso, mas, sim, chance de crescer e se reciclar.
Durante muito tempo os dias não tinham começo, nem fim. Não havia muita diferença entre as madrugadas que passava acordada cuidando dos filhos, e as manhãs que saia correndo com os dois, sacolas de roupa e comida para levá-los à escola antes de iniciar mais um dia de trabalho.
Há dois anos a vida de Denise era semelhante à da maioria das mulheres que se dividem entre os papéis de profissional, mãe, esposa e administradora da casa. Jornada de trabalho (oito horas diárias), trânsito para levar e pegar os filhos na escola, ansiosa para não chegar atrasada ao serviço e no final do dia, os afazeres domésticos a esperavam: banho nas crianças, jantar, colocar roupa de molho, pendurar outras, ajeitar casa e cozinha. Sentia-se a mulher-maravilha, porém, cansada, exausta e derrotada por não conseguir fazer nada direito, apesar de todo esforço.
Quando as mulheres decidiram que queriam, precisavam e tinham o direito de trabalhar fora, tiveram que criar para si e conviver, às vezes a duras penas, com esse mito de supermulher. Afinal, a independência, as conquistas tão sonhadas, na verdade não excluiam de suas vidas as tarefas de mãe, esposa e administradora do lar. Além da competência profissional, tiveram que provar que também conseguiam ser donas de casa impecáveis. Só que nem sempre é possível lidar satisfatoriamente com a vida profissional, familiar e amorosa. Uma das três acaba perdendo e a mulher se dá a conta.
Conflitos
Para algumas mulheres esse momento de continuar ou não no trabalho, passa a ser de reflexão. Apesar de todo seu esforço a casa fica desarrumada, os filhos tornam-se carentes e o marido queixa-se do pouco tempo que sobra para ele. “Cheguei a conclusão que mais importante que meu trabalho, era poder ver as crianças crescendo emocionalmente estáveis”, observa Denise.
O retorno da mulher ao lar, nem sempre está ligado a frustrações com a profissão ou à insatisfação com a dupla jornada de trabalho. Muitas vezes o desejo de ter uma família acaba simplesmente sendo maior que o de ter uma carreira. Para a grande maioria esse é um período doloroso de reflexão, decisão e adaptação, repleto de dúvidas e questionamentos.
Quando Denise se decidiu pelos filhos, ensaiou diversas vezes na porta do chefe para pedir a conta, dava meia volta e deixava para o dia seguinte para pensar mais e melhor. “Muitas eram as perguntas”, relembra, há três anos afastada do trabalho. “O que aconteceria se eu não tivesse ânimo de voltar a trabalhar? E como voltar, se fiquei fora do mercado e defasada profissionalmente?”. Foram dias dramáticos, até que o marido deu uma força e questionaram-se: depois de terem lutado tanto para terem aquelas duas lindas crianças, era justo deixá-las aos cuidados de terceiros o dia todo?
O maior conflito é conviver com a idéia de estar nadando contra a correnteza. Depois de tanta luta para conquistar o direito de trabalhar fora, ter carreira de sucesso, conseguir independência financeira, parece estranho e até desleal, abandonar tudo num momento em que, as mulheres ainda lutam para assegurar vaga no trabalho.
Denise afirma que na sua indecisão se questionava: “É justo, enquanto as mulheres estão se empenhando para conquistar melhores posições no mercado de trabalho, abdicar-me dele?”. Quem resolve parar de trabalhar vê imediatamente na sua frente o fantasma da dependência financeira da limitação social e cultural. É difícil encarar aquilo que tanto se ironizava no passado – a dona de casa -, um papel que na juventude, muitas decidiram abolir.
Determinação
A decisão de uma mulher bem-sucedida em abandonar o trabalho causa sempre espanto nas outra pessoas. Não entendem o por quê dessa atitude. E para quem viveu muito tempo a rotina do trabalho fora de casa, o fato de lidar exclusivamente com problemas domésticos é muitas vezes perturbador.
Enfrentar o dia-a-dia com os problemas de casa é árduo e quem decide se dedicar a isso, sabe que essa tarefa está longe da fantasia de ficar de pernas para o ar e ter tempo para compras e passeios. Existem momentos de insegurança e insatisfação, semelhantes aos vividos quando se trabalha fora. “Havia dias em que sentia inveja de meu marido, arrumando-se e saindo para o trabalho. Tinha vontade de pegar minha bolsa e fazer o mesmo”, conta Denise.
A volta
Mas as mulheres que tomam essa decisão aprendem que, necessariamente, não significa tornar-se dependente, cheia de conflitos, mágoas, desejos e expectativas. Ou que ficar no lar é deixar do lado de fora todas as esperanças. É necessário cultivar novos hábitos e praticar hobbies, transformar esse período em investimento e conseguindo pela primeira vez um tempo para fazer o que gostam. Denise preencheu o vazio com aulas de ginástica e confecções de bombons caseiros – foi a maneira que achou para contribuir no orçamento doméstico que ficou apertado com um só salário.
Denise não marca data para voltar ao mercado de trabalho, quer ter os filhos crescidos. Enquanto aguarda a independência dos pequenos se aprimora em leituras, seminários e internet. Gosta de pensar que está investindo no seu potencial. “Quando sentir que chegou a hora de voltar quero poder me dedicar com mais vontade e garra, sem traumas e inseguranças”, finaliza.
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225.