Maria Regina Canhos Vicentin (*)
Artigo do Padre Zezinho "Preconceito e conceito" nos remete a atual conjuntura em que falta tempo para elaborar conceitos. Assim optamos por abdicar de pensar. Muitas pessoas aceitam determinadas situações ou opinam sem pensar, sem refletir sobre a questão. Posturas que são nomeadas e tidas como "politicamente corretas", na verdade revelam puro receio de expressão; medo da censura ou da discriminação. Padre Zezinho aponta que, hoje em dia, "a proposta é discordar apenas do que é permitido" e, se o assunto for polêmico, "dizer que não tem nada contra, ainda que tenha", pois é necessário concordar com tudo o que os donos da situação defendem. Objetivando a sobrevivência.
Senti isso na pele há algumas semanas. Tudo porque ousei discordar do "kit gay" e da argumentação do Frei Betto em seu artigo: "Os gays e a Bíblia". Como disse Pe. Zezinho, talvez eu devesse ter feito como a maioria e, em se tratando desse assunto polêmico, dizer simplesmente que não tinha nada contra (mesmo que tivesse). Isso teria me poupado da incompreensão de alguns e de e-mails ofensivos. Pe. Zezinho já havia orientado: "Saia-se bem discordando de tudo o que os donos da situação discordam e concordando com tudo o que defendem." Para sobreviver parece ser necessário realmente abdicar de pensar e opinar. Estamos perdendo o direito de discordar do que consideramos inadequado.
Pe. Zezinho continua; diz que comunicar deveria ser outra coisa. Deu o exemplo de Jesus, que morreu por discordar dos donos da situação; e acrescentou que: "Hoje, na mídia e nos governos, quem elogia e concorda tem espaço. Quem discorda é afastado ou excluído. Mas, foi Jesus quem disse que a verdade nos libertaria." Assim, penso que temos o direito de discordar, ainda que esse direito esteja sendo paulatinamente subtraído.
Lamento ter sido incômoda e indigesta ao considerar a idade de seis a oito anos inadequada para uma cartilha de combate à homofobia. Lamento muito ter chocado ao apontar que vários casos de homossexualismo são decorrentes de abusos sexuais sofridos, e da forma como certas crianças são criadas por seus pais que, por vezes, não aceitam o menino ou a menina que tiveram. Lamento ter indignado alguns por não concordar com o artigo de Frei Betto, considerando que ele extrapolou ao escrever que na Bíblia há trechos em que se subentendem relacionamentos homossexuais.
Arremato este texto com mais um trecho do Pe. Zezinho: "Concordar sempre e em tudo é submissão e subserviência. Discordar sempre e em tudo é insolência. Concordar e discordar com critério é sinal de maturidade. Quantos conseguem esta franqueza?"
(*) É escritora – contato@mariaregina.com.br