Dieta para um pequeno planeta

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José Renato Nalini (*)

Nós, carnívoros, poderíamos não nos interessar pela leitura do livro “Dieta para um pequeno planeta”, escrito há meio século por Frances Lappé. Ela sustenta que os americanos – e nós também – comemos muita carne, principalmente a bovina. Isso significa enorme desperdício de recursos. A pecuária é uma atividade que se utiliza de muitos insumos naturais. Aqui no Brasil, sua expansão está vinculada ao desmatamento. Sem falar que o gado rumina e expele gás metano também pela flatulência. Para um país que tem mais cabeças de gado do que de gente, é algo para se pensar.
A autora descobriu, nos Estados Unidos, à época em que escreveu o seu livro, que mais da metade da área cultivada se destinava à alimentação do gado. É algo que ocorre também no Brasil, embora o ufanismo queira demonstrar que pecuária e preservação convivem pacificamente.
De qualquer forma, se aquilo que se investe no cultivo de alimentação para o gado fosse destinado para alimentação humana, haveria comida suficiente para todos. Não é algo a se pensar num país em que há vinte milhões de brasileiros que passam fome – em sentido estrito – e em que mais da metade da população sofre de insegurança alimentar?
À época em que lançado o livro, em 1971, não se falava tanto em sustentabilidade. Era muito difícil convencer o norte-americano a deixar seu hamburger para se tornar vegetariano. Tanto que na divulgação do livro, ela passou por um episódio que lembra o disputado filme “Não olhe para cima” da Netflix. Nada se perguntou sobre seu livro, mas o que ela pensava que alienígenas – se existissem – comeriam.
Era um desafio tentar reduzir o consumo de carne há cinquenta anos. Não havia ingredientes disponíveis. Ninguém usava cebola in natura. Nos Estados Unidos, a cozinha se servia de cebola em pó. Não se falava em azeite, mas apenas óleo.
Depois de meio século, as ideias de Frances Lappé convenceram milhões de americanos. Hoje a juventude é mais antenada com a questão da sustentabilidade. Existem até veganos, que são vegetarianos mais radicais quanto a evitarem o consumo de qualquer alimento de origem animal. O planeta Terra agradece o envolvimento de mais pessoas nesse grupo – ainda minoritário – dos que não se alimentam de cadáveres. Mas há um longo caminho a ser percorrido. Pleno de obstáculos e problemas.

(*) É Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022. (Imprensa Renato Nalini – e-mail: [email protected])

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