Maria Regina C. Vicentin (*)
Neste 20 de novembro comemoramos mais um dia nacional da consciência negra. Levando em conta que somos o país com a segunda maior população negra do mundo, penso que seria interessante fazer certas reflexões. Sei que alguns podem estar ansiosos, esperando comentários acerca das cotas para negros nas universidades públicas, medida que só serviu para aumentar o preconceito ao invés de diminuí-lo, mas minha intenção é outra e deixo esse assunto para quem possa discorrer sobre ele com maior propriedade. Quero apenas dividir com vocês a fala de uma criança.
Faz alguns dias, meu filho de nove anos veio ter comigo com os olhos arregalados. Ele estava pálido, muito mais branco que de costume, e trazia um apreensivo tom de voz quando começou a comentar uma notícia que havia ouvido pela televisão. “Mãe, acabei de ouvir uma coisa horrível! Dois adolescentes negros foram até um bar para comprar algumas coisas, sem saber que o pessoal de lá era racista. Um deles, que tinha apenas 14 anos, ficava assoviando enquanto o outro fazia o pedido para a moça do bar. Ela ficou irritada com o assovio do menino e se queixou com um familiar que, imediatamente, colocou os dois para fora do estabelecimento. Com a ajuda de outra pessoa, o cara bateu muito no adolescente, atirou em sua cabeça e arrancou seu olho, desfigurando a sua face. Eles fizeram isso só porque ele era negro, e eles não gostavam de negros. Quando a mãe do menino viu o filho daquele jeito, fez questão de deixar o caixão aberto para que todos vissem o que os brancos haviam feito com seu filho”.
Sinceramente não sei se a notícia foi bem assim, pois não a ouvi. Essas foram as palavras do meu filho frente ao que assimilou e entendeu dessa notícia. Eu fiquei muito triste e encontrei dificuldade para lhe explicar porque algumas pessoas sentem raiva de seus semelhantes pela cor da pele diferente. Ele não conseguia entender o que fez com que o familiar da moça ficasse bravo. Não entendia porque um simples assovio poderia ter causado tamanha tragédia. Isso porque meu filho também assovia, e acha engraçado e natural. Foi difícil lhe explicar que o jovem não havia morrido por causa do assovio, e sim por causa da cor de sua pele. Penso que foi difícil também para o meu filho entender, pois ele conhece inúmeras pessoas que não são brancas, mas são como ele: choram e riem, têm planos e decepções, brincam e, às vezes, tiram notas baixas nas provas escolares. São seus amigos, e ele não vê nada de errado nisso.
Racismo é coisa que se aprende em casa! Se o pai/mãe é racista, o filho tem grandes chances de também o ser. O preconceito está dentro e não fora. A raiva e a rivalidade nascem dentro do coração do homem. Se você quiser que seu filho seja um homem justo, ensine-lhe a justiça. Se quiser que ele seja humano, ensine-o a apreciar a humanidade. Se quiser que tenha respeito pelos demais, ensine-o a não fazer acepção de pessoas, independente de sua raça, credo ou condição social.
Certa vez eu li que os brancos quando nascem são rosados, quando tomam sol ficam vermelhos e quando morrem escurecem, enquanto que os negros assim o são ao nascerem, tomarem sol e morrerem. Será que não somos nós, brancos, que deveríamos ser chamados: pessoas de cor? Reflita um pouco sobre essas coisas neste dia nacional da consciência negra. São as pessoas que criam o preconceito.
(*) É psicóloga (e.mail: mrghtin@ig.com.br), autora dos livros: Buscando a Felicidade, Sementes de Esperança e Temas do Cotidiano. Ligue grátis 0800-160004.