Antonio Delfim Netto(*)
Não é nada excepcional para um final de ano, mas o fato é que o último trimestre de 2003 registrou crescimento da produção industrial e o que é mais importante uma ligeira recuperação do emprego no setor. Estes sinais de recuperação da indústria e seu reflexo na contratação de pessoal reforçam nossa confiança que 2004 oferece todas as condições à economia brasileira para marcar a inflexão para uma taxa de crescimento do PIB mais robusta.
No comentário anterior falei da situação particularmente favorável que nos encontramos em relação à agricultura que está construindo um enorme aumento do produto potencial. Existem no país mais de 50 milhões de hectares disponíveis para serem utilizados de maneira econômica e sem danos ecológicos resgatando, inclusive, uma parte dos exageros cometidos no passado contra a natureza com a recuperação das áreas degradadas. Precisamos apenas manter uma rigorosa proteção ao direito da propriedade, resolver a questão dos trangênicos e aproveitar as oportunidades de criação das vantagens comparativas, de que o melhor exemplo é o Moderfrota.
No que se refere à recente recuperação da produção industrial, o melhor indicador é a redução da taxa de desemprego no setor. Ele está refletido também no aumento das importações de bens de capital que até outubro haviam crescido 30% em relação a 2002 e no próprio aumento das exportações industriais. As medidas para desonerar tributos na compra de equipamentos, combinadas com a expansão do crédito a taxas de juros reais menores, deverão estimular os investimentos na produção.
A ampliação dos investimentos pelos “produtores de parafusos” é que garante o desenvolvimento. A expansão inicial em 2004 será promovida pelo crescimento da demanda (consumo interno e exportações), mas a continuidade do processo dependerá da resposta do empresariado. Se ele acreditar que a demanda vai prosseguir aumentando, iniciará novos investimentos que vão contribuir para o aumento do produto potencial e abrir espaços para um crescimento maior sem pressões inflacionárias. Para que esse desenvolvimento não seja interrompido mais adiante devido a problemas externos, é indispensável a ampliação do comércio exterior. Não devemos esquecer que ainda é enorme nossa vulnerabilidade externa e só com um robusto crescimento das exportações (e das importações) é que poderemos modificar rapidamente os indicadores que informam o nível do risco brasileiro lá fora. Destes indicadores, um dos mais cruciais é a relação entre a Exportação Anual e a soma dos Juros e Amortizações que temos que pagar no ano. Melhorando esta relação, cai o risco brasileiro, tornando possível a queda da taxa de juro real e estimulando ainda mais os investimentos que são a mola propulsora do desenvolvimento.
Que 2004 nos traga de volta o crescimento e, junto com ele, uma substancial queda do desemprego, esta sim um verdadeiro espetáculo …
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br