Texto: Antonio Delfim Netto
O debate sobre política econômica no Brasil nunca foi muito esclarecedor e, digamos, nem um pouco pacífico, o que, aliás, não é diferente do que acontece nas economias de mercado. Nada a lamentar, portanto, a não ser a circunstância particular, entre nós, da insistência na monótona discussão para estabelecer a prioridade do crescimento sobre o combate à inflação (ou vice-versa), como se tratassem de verdadeiras alternativas.
Como presidente, Lula deu uma contribuição enorme na desmontagem dessa falsa dicotomia. Para ele, inflação era apenas o apelido de "carestia" e "crescimento" o codinome do emprego. Demonstrou todo o tempo que a máxima prioridade de seu governo era não descuidar de ambos: no auge da crise financeira mundial encontrou o discurso certo antes dos demais líderes, excomungando o desemprego e promovendo o consumo, com o que livrou o Brasil rapidamente dos efeitos da tragédia recessiva global. Em nenhum momento, contudo, vacilou no sentido de aceitar que as medidas de estímulo ao crescimento produzissem a volta da inflação, a "carestia" tão temida pelos trabalhadores.
A presidente Dilma Rousseff tem mostrado um equilíbrio semelhante na condução da política econômica, acautelando-se diante das novas tensões inflacionárias, mas sem abandonar o papel indutor do Estado na aceleração do crescimento. Seu governo não tem se deixado inibir pela veemente defesa da "prioridade" do combate à inflação, com a cobrança de cortes radicais dos programas de aceleração do crescimento, por parte de setores da oposição e de rentistas do sistema financeiro.
Ainda agora, na posse da ministra Gleisi Hoffmann na Casa Civil a presidente reiterou a sua primeira promessa quando assumiu o governo que "o Brasil vai manter um ritmo de crescimento adequado ao longo de seu mandato". Significa um crescimento anual sustentado de 4,5 ou 5% do PIB e se for possível até um pouco maior. O crescimento não será sacrificado a não ser que haja uma tragédia global de grandes proporções.
Ela sabe que controlar a inflação não é uma questão de escolha de prioridades. O combate à carestia é fundamental para manter um crescimento econômico saudável no longo prazo, preservando o rendimento dos salários. Não há concessão nesse propósito, porque ter a inflação sob controle é que torna viável cumprir todos os demais compromissos. Uma prova disso é a rigidez fiscal que estamos vivendo. Pela primeira vez em muitos anos as despesas de custeio do governo federal e transferências serão menores que o crescimento do PIB.
As pessoas, às vezes, custam a entender a importância desse fato, mas é isso que dispensa a necessidade de ajustes mais dramáticos que poderiam até conseguir alguns resultados rapidamente de redução da taxa de inflação mas estariam produzindo uma tragédia no desenvolvimento. Sua política mais cuidadosa atende aos dois objetivos de crescimento com estabilidade e tem demonstrado até agora que sabe como atingi-los.