Correndo atrás do prejuízo (2)

Texto: Antonio Delfim Netto

No comentário da semana passada fiz um rápido apanhado das causas do baixo crescimento da economia em 2005 e 2006, quando deixamos de aproveitar o que pode ter sido a fase terminal de um dos períodos mais dinâmicos de expansão da economia mundial. O Brasil teve claramente, em 2004, a oportunidade de acompanhar o ritmo ascendente da economia global, tendo superado numa larga medida o problema do risco externo que o constrangia mas esbarrou mais uma vez na estultice de uma política monetária dominada pela idéia que “se crescer mais de 3% ninguém segura a taxa de inflação…”. Em 2005, esfriamos o entusiasmo do setor industrial e em 2006 repetimos a mão pesada da política monetária, de tal sorte que chegamos ao final do ano com o PIB crescendo vergonhosamente menos de 3%, com a inflação longe da meta.

O resultado é de tal forma vexatória que vai produzir os necessários ajustes na política monetária. Deve ajudar também o governo a colocar em prática finalmente o programa de controle de suas despesas de custeio para os próximos 4 anos, de modo a recuperar a capacidade de investimento público. Apesar da enormidade da carga de impostos, o governo só tem condição de investir hoje menos de 1% do PIB. Ele precisa mostrar ao setor privado que é capaz de continuar reduzindo a relação Divida/PIB, o que lhe permitirá fazer duas coisas absolutamente fundamental para a retomada do desenvolvimento: recuperar a capacidade do investimento público, garantindo ao setor privado que não faltarão recursos para expandir a oferta de energia e que é possível reconstruir a malha rodoviária que foi praticamente consumida nos últimos vinte anos. Sem um horizonte seguro de fornecimento de energia, a indústria não investe. O setor agrícola, que está começando uma recuperação após dois anos problemáticos precisa do bom estado das rodovias para não perder todo esforço de produtividade que realiza do lado de dentro da porteira.

É preciso dar motivos ao setor industrial para acreditar nessas garantias. Além de desonerar os novos investimentos, o governo pode dar o sinal que está disposto a compartilhar os riscos do desenvolvimento, simplesmente alongando os prazos do recolhimento dos impostos que recaem sobre a produção industrial. Governos estaduais importantes como os de Minas e São Paulo são dispostos a fazer o mesmo com seus impostos. Pode começar pelos setores que habitualmente reagem mais vigorosamente aos estímulos, que têm capacidade de ampliar rapidamente as exportações, como é o caso de toda a cadeia de produção das indústrias automotiva, incluindo autopeças, calçadista, téxteis, moveleira e de outros inúmeros segmentos na agroindústria.

Só vamos retirar a economia brasileira desta pasmaceira de 2% a 3% de crescimento se convencermos a indústria a investir. Para que o Brasil alcance algo próximo do número mágico de crescimento de 5% já em 2007, a indústria tem que ter um crescimento de 6% ou 7% no mínimo nos próximos meses. As condições que têm que ser criadas para que isso aconteça, só o governo pode oferecer: aliviar a mão pesada da política monetária, deixar o câmbio caminhar para o equilíbrio e perder o medo de estimular quem produz.

Aproveito mais uma vez para desejar Feliz Natal e muito próspero 2007 aos leitores do Jornal de Araraquara.

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