João Baptista Galhardo (*)
Dois discípulos procuraram um mestre para saber a diferença entre Conhecimento e Sabedoria. O mestre disse-lhes: Amanhã, bem cedo, coloquem vinte grãos de feijão. Dez em cada pé. Subam, em seguida, a montanha que se encontra junto a esta aldeia, até o ponto mais elevado, com os grãos dentro dos sapatos.
No dia seguinte, os jovens discípulos começaram a subir o monte. Lá pela metade um deles estava padecendo de grande sofrimento: seus pés estavam doloridos e ele reclamava muito.
O outro subia naturalmente a montanha. Quando chegaram ao topo um estava com o semblante marcado pela dor. O outro sorridente.
Então, o que mais sofreu durante a subida perguntou ao colega:
– Como você conseguiu realizar a tarefa do mestre com alegria, enquanto para mim foi uma verdadeira tortura?
O companheiro respondeu:
– Meu caro colega, ontem à noite cozinhei os vinte grãos de feijão.
É comum confundir Conhecimento com Sabedoria, que são bem diferentes.
Se prestarmos atenção, podemos verificar que a diferença é clara e visível. O Conhecimento é o somatório das informações que adquirimos, é a base daquilo que chamamos de Cultura.
Podemos adquirir Conhecimento sem vivermos uma experiência fora dos livros e das aulas teóricas.
Sem sair da reclusão de uma biblioteca podemos nos tornar cultos.
Já a sabedoria, por outro lado, é o reflexo da vivência, na prática, quer pela experimentação, quer pela observação, da utilização dos conhecimentos previamente adquiridos.
Para ser Sábio é preciso viver, experimentar, ousar, ponderar, amar, respeitar, ver e ouvir a própria vida.
E, sobretudo pensar, tendo para a vida sempre duas ou mais opções para continuar na falta de uma delas. Sabedoria é a prudência, moderação, sagacidade, temperança e reflexão no modo de agir. É a capacidade de sair de improviso de uma situação incômoda. É saber resolver os problemas com a simplicidade da vida.
A necessidade é a maior alavanca para a sabedoria. Para sobrevivência.
Minha mãe podia não ter muito conhecimento. Mas era uma sábia. De manhã, às vezes sem nada para colocar na panela, olhava para o quintal e com alguns ovos, duas ou três batatas e uma rama de mandioca fazia um delicioso almoço para oito pessoas. No jantar pensaria de novo.
É preciso buscar, sim, o conhecimento, a informação. Sabedoria, entretanto, é vida.
Deve-se atentar para não se tornar alguém fechado em si mesmo e no próprio processo de aprendizado.
Sempre encontro pessoas em busca de novos caminhos. Que não param para pensar que talvez o seu problema esteja na forma de caminhar.
Estamos cada vez com mais informações, esquecendo pais e filhos, mestres e alunos da arte de pensar.
Como deve ser infeliz quem não sabe cozinhar os seus feijões.