Antonio Delfim Netto (*)
Não há nada de surpreendente na “nova” atitude das lideranças tucanas elevando o tom da crítica ao governo Lula neste início de 2005. Elas não podiam mesmo deixar passar em branco a divulgação dos números que mostram a superioridade dos resultados da atual administração e isto ainda na metade do primeiro mandato: crescimento do PIB, expansão do comércio exterior, fechamento das contas externas com superávit e inflação em queda, exibindo um contraste intolerável com os tristes resultados do quatriênio anterior que além do crescimento insignificante terminou com inflação em alta.
A radicalização da crítica coincide com a divulgação dos resultados da pesquisa mensal de emprego do IBGE, mostrando que a taxa de desemprego chegou a um dígito (9.6%) em dezembro, depois de oito anos com taxas de dois dígitos e queda persistente dos rendimentos salariais. O índice de dezembro sofre a influência de fatores sazonais, mas os 9,6% em 2004 ainda se comparam favoravelmente com os seus correspondentes nos anos anteriores, desde 2001.
Quando alguns dos mais festejados intelectuais tucanos, do alto de sua soberba, cobram do presidente Lula “um melhor conhecimento da história econômica do país” eles apenas revelam preconceito e inconformidade diante do sucesso do torneiro mecânico, exatamente onde ele “deveria fracassar” de acordo com sofisticados cálculos de seus “cientistas sociais”… Mas “esquecer” a história, principalmente as fases mais recentes, talvez seja uma falha mais grave: os oito anos que antecederam o governo Lula deixaram um registro de insucessos na condução da economia jamais verificados em outros períodos governamentais e que dificilmente serão igualados nos próximos: um crescimento médio anual do PIB de 2% (renda per capita praticamente estagnada), desemprego acima de dois dígitos, saldos negativos no comércio exterior, déficits crescentes em conta-corrente e uma dívida que gerou uma dependência externa que vai nos acompanhar por duas ou três décadas ainda. Para não “esquecer o social”, tão cobrado pela oposição tucana, os registros mostram o aumento dos níveis de desigualdade num quadro de estagnação da economia, o que poderia ser classificado como “o pior dos mundos”, onde “todos pioram, embora alguns piorem mais do que outros…”
Numa única oportunidade, o regime anterior ameaçou a volta ao crescimento econômico: foi em 2000, após o “mercado” ter forçado a desvalorização cambial de janeiro de 99, mas os 4,4% de expansão do Produto naquele ano durou menos do que um “vôo de galinha”, graças à maior demonstração de incompetência e imprevidência de nossa história republicana, que foi o “apagão” energético de 2001. O “competentíssimo” governo de então declarou-se surpreendido, absolutamente despreparado para um “desastre anunciado”. Como notou o ilustre vice-presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base – ABDIB, o Dr. José Luiz Alquéres com muita precisão num recente artigo para o Estado de São Paulo, o prenunciado, porém trágico, racionamento de 2001 demonstrou que suas causas remontavam a falta de ações e investimentos nos cinco anos anteriores .
Anos de inegável sabedoria tucana…
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br