Cobranças

Antonio Delfim Netto

Num recente "Café com o Presidente" , seu programa de rádio das segundas-feiras, o presidente Lula referiu-se à dificuldade de convencer os países desenvolvidos que a sustentação da política de subsídios à agricultura está aumentando a miséria dos agricultores nos países pobres. Queixou-se da indiferença dos governos diante do agravamento dos problemas que resultam dessa política , em clara contradição com as "metas para o milênio" que anunciam o compromisso dos países ricos em eliminar a fome em escala mundial. Ele abordou a questão com propriedade, mostrando que as distorções produzidas no comércio de produtos agrícolas pelos sistemas de subsídios aos agricultores americanos e europeus, inviabilizam economicamente a agricultura do milho, do algodão, do trigo nos países pobres. O Brasil tem prejuízo -disse o Presidente – mas de alguma forma nós nos defendemos porque temos alta produtividade e tecnologia para enfrentar a competição internacional, mas a situação é dramática nos países que têm uma agricultura pobre e já enfrentam uma situação de miséria .

Essa política de subsídios é sustentada há mais de trinta anos na Europa e nos Estados Unidos. Ela é mais escandalosa entre os europeus que praticamente "fecharam" o continente. Será muito difícil obter deles que eliminem aquelas vantagens comparativas que concederam às suas ex-colônias, especialmente na África. De qualquer forma vale a pena continuar lutando para reduzir os níveis de proteção, porque se houver alguma liberação o Brasil será beneficiado, embora menos do que os outros. Não há dúvida que é preciso cobrar dos países ricos uma abertura muito mais generosa do que estão pensando dar.

No programa de rádio o Presidente cuidou também do problema doméstico do qual depende o julgamento de seu governo, que ele sintetizou na meta "Mais desenvolvimento com menor desigualdade social" . Na essência, a questão não é muito diferente do tema anterior : a necessidade de reduzir as disparidades de renda entre as pessoas, mediante o aumento da oferta de oportunidades de trabalho e da intensificação dos programas de combate à fome. Não é nenhuma maravilha, mas seu governo vem apresentando alguns bons resultados no que diz respeito à diminuição da miséria e à maior oferta de empregos formais.

A meta síntese está claramente ameaçada, contudo, diante da indiferença da autoridade monetária que frustrou aqueles objetivos em 2005 e insiste em retardar o crescimento este ano. Mais do que a cobrança externa está na hora da cobrança interna que faltou no ano passado: o Presidente deve exigir do Banco Central que demonstre qual o risco para a economia de baixar 100 pontos a taxa SELIC (e não os ridículos 0,75 desta semana), a não ser o desejo de repetir o sádico experimento de 2005 que resultou na perda de 2% de crescimento do PIB e seus milhares de empregos para quem não está no sistema financeiro.

E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br

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