Antonio Delfim Netto (*)
Aparentemente o PT percebeu afinal que quem venceu a eleição foi o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva e não o Partido. Esta nova percepção deve libertar o Presidente para concluir a organização de seu governo e dedicar-se à tarefa de estimular os investimentos e a criação de empregos. Esta é a cláusula de ouro de seu compromisso com os brasileiros, que o elegeram conquistados por seu carisma mas principalmente porque se deram conta que não seria razoável impor ao país mais alguns anos de administração ruinosa que construiu uma enorme dependência externa e reduziu a taxa de crescimento da economia resultando na expansão dos níveis de desemprego.
No primeiro ano, o novo governo não teve margem de manobra para alterar os parâmetros da política macroeconômica fixados desde os acordos de empréstimos do FMI que evitaram a quebra do país no segundo mandato de FHC. Se Palocci tivesse cedido no superávit fiscal, como queria o PT, o Brasil quebrava antes de terminar o ano, com o aplauso entusiástico dos tucanos. Mais do que a oposição, o PT prejudicou o governo enormemente, por sua incompreensão desses fatos, ao exigir mudanças extemporâneas, aumentando as dificuldades que já não são pequenas e ajudando a disseminar o pessimismo. Um clima que vai dominando a sociedade na medida em que a autoridade não se impõe diante dos atos de violência do MST contra pessoas e propriedades produtivas, ferindo a legalidade constitucional.
Foi sugerido recentemente que Lula deveria mirar-se no exemplo do presidente Juscelino Kubitschek nos anos 50 que se descolou da burocracia palaciana e percorreu o Brasil levando a mensagem do desenvolvimento e acompanhando as ações de seu plano de metas. A lembrança é interessante, porque o primeiro ano de JK também não foi estimulante para os investimentos, devido à instabilidade política resultante de episódios de insubordinação militar. Nada contudo era superior ao seu entusiasmo e à disposição para o trabalho. A política macroeconômica de JK “não foi nenhuma Brastemp” mas na microeconomia ele foi campeão: estimulou os investimentos na indústria nacional, atraiu capitais externos e batalhou incansavelmente para expandir a oferta de energia e dos meios de transporte.
É nesse espaço micro que o governo está ausente. Ninguém pode substituir o Presidente na tarefa de convencer os empresários das vantagens de ampliar os investimentos, que o direito de propriedade será assegurado no campo e na cidade e que todos poderão dispor livremente dos lucros de seus empreendimentos. E que não se vai descuidar da infra-estrutura necessária para suportar a expansão da economia.
É preciso acelerar esses procedimentos já, para que nos 30 meses que ainda tem de mandato Lula dê cumprimento às promessas que o elegeram .
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br