O município de Araraquara está entre os poucos de porte médio, no Brasil, que possuem 100% de água e esgotos tratados. Uma posição alcançada com recursos próprios do Departamento Autônomo de Água e Esgoto (DAAE) da cidade, após anos de investimento em projetos a médio e a longo prazo.
Os projetos conseguiram dar à população qualidade de vida, segurança e tranqüilidade na reservação e distribuição de água, além de demonstrar a constante preocupação com a preservação do meio ambiente. Os reflexos ainda são observados na economia do município, que conseguiu montar uma infra-estrutura que o garante capacidade de receber não apenas novos habitantes como investimento de empresas de pequeno, médio e grande porte, atraídas pela qualidade desse sistema.
Em relação ao tratamento de esgoto, pouquíssimos municípios seguem o exemplo de Araraquara, entre eles Altinópolis, Franca, Motuca, Nova Europa, Pradópolis, Sales de Oliveira e Trabiju. Já algumas cidades fazem o tratamento em apenas parte do material, como acontece em Ribeirão Preto, que trata 15%; Ibaté e Santa Lúcia, 30%; Barretos, 60% e Santa Rosa do Viterbo, 80%.
Porém a maioria – como é o caso de Américo Brasiliense, Boa Esperança do Sul, Gavião Peixoto, Itápolis, Matão, Rincão, São Carlos e Sertãozinho – despeja todo o esgoto doméstico produzido nos rios que compõem as bacias hidrográficas que cortam o Estado de São Paulo – pesquisas apontam que, em nível de criticidade (poluição) dos rios, a média de amostras colhidas se enquadra no grupo 2, o que significa que de 30% a 60% do material colhido está apresentando contaminação por algum produto químico ou nocivo, como coliformes fecais.
Motivo
Uma das principais razões para a poluição das águas é a ausência de tratamento adequado ao esgoto doméstico pelos municípios – é grande o número de cidades que não possuem aparato para tratamento de resíduos domésticos que são depositados nos rios. Além disso, ações como atividades comerciais às margens dos rios (mineração ocupação desordenada de ranchos e atividades pesqueiras) contribuem para o agravamento da situação.
O diretor do Departamento de Água e Esgoto de Américo Brasiliense, Alexandre Cohen Pierri, explica que existe um projeto para a construção de estações de tratamento. “Seriam lagoas de tratamento, com área maior e profundidade menor. O problema é o alto custo da obra. Sem verba do governo, o município teria que reajustar a tarifa para poder arcar com uma construção desse porte. Como não pretendemos aumentar a tarifa, a administração tem trabalhado para conseguir a liberação de recursos”, afirma. Dados da Cetesb, revelam que o município despeja, diariamente 1,5 tonelada de esgoto em rios.
Pierri diz que a situação é semelhante em Santa Lúcia, cidade em que presta consultoria e a qual joga 0,29 tonelada por dia de resíduos nos córregos Maria Mendes e Ponte Alta. “Embora a cidade trate 60% de todo esgoto doméstico, temos um projeto que não conseguiu sair por causa da falta de verba”, destaca.
Já em Boa Esperança do Sul, a lagoa de tratamento está pronta desde 1998, mas nunca foi ativada. Com isso, o Rio Boa Esperança recebe 0,67 tonelada de esgoto todos os dias.
De acordo com o diretor do Departamento de Engenharia da Prefeitura do município, João Roberto Braga, o problema estaria no sistema de recalque. “Como ele não está funcionando, não é possível bombear a água da elevatória para a Estação de Tratamento de Esgoto. Foram gastos cerca de R$ 135 mil na obra, entretanto o esgoto doméstico continua sendo jogado no Rio Boa Esperança sem qualquer tratamento”, afirma.
Braga ressalta que a prefeitura está abrindo licitação para que a obra seja refeita. “Depois, a empresa terá 90 dias para concluí-la”.
Economia
Se a descarga de esgoto doméstico não tratado estivesse solucionada, as prefeituras gastariam menos para captar água da superfície. Com uma água mais limpa é mais barato tratá-la e distribuí-la para uso.
O problema é a falta de verbas suficientes para investimentos tanto dos governos estadual e federal, como também dos próprios municípios.
Cada uma das 22 bacias hidrográficas existentes no Estado de São Paulo recebe R$ 1 milhão de verbas provenientes do Hehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) – cerca de 85% são aplicados em saneamento, incluindo a própria captação de água.