José Renato Nalini (*)
Cito sempre Franco Montoro, o professor de Introdução à Ciência do Direito da PUC-São Paulo: “Ninguém nasce na União. Nem no Estado. As pessoas nascem na cidade”. E é na cidade que se vive e se morre. O caramonês Achille Mbembe, autor dos livros “Necropolítica” e “Crítica da Razão Negra” afirma: “Nossas vidas estão ligadas a um território. Para viver e existir, é preciso ter os pés em um solo. O território é o cordão umbilical que nos liga à memória e ao futuro”.
É algo que nos faz refletir. Há questões seríssimas que superam a nossa frágil capacidade de solucionar. Existir guerra fratricida em pleno século XXI, depois dos dois horríveis conflitos mundiais do século passado é algo aterrador. Mas há questões emergenciais que, embora globais, justificam nossa atuação individual e cidadã.
Uma delas é a gravidade da mudança climática. Enfrentar intensas ondas de calor é algo que não se incluía em nossas experiências. A ciência e a medicina afirmam que há mais mortes em virtude das elevadas temperaturas do que produzidas por outras causas. As precipitações pluviométricas excessivas, os vendavais, a imprevisibilidade do tempo, tudo isso é causado por nós mesmos. É a humanidade que escolheu o caminho da própria extinção, ao não conseguir administrar a emissão dos gases causadores do efeito estufa.
Enquanto os líderes mundiais não se conscientizam de que o perigo é muito maior do que se poderia imaginar, enquanto o negacionismo continua a dizer que isso é catastrofismo, os seres humanos de boa vontade têm condições de fazer alguma coisa.
O município é responsável pelos resíduos sólidos, pela excessiva tonelagem do descarte de material que deveria ter outro destino. Então, é urgente educar a população para poupar, não desperdiçar, reciclar e destinar o descarte para a sua futura utilização.
Ocupar toda área urbana ainda não edificada para o plantio de vegetação que atenua a temperatura. Recuperar córregos e riachos. Plantar mais árvores. E incentivar a juventude a criar alternativas. Os moços já nascem com chips e sabem conceber startups que dão respostas aos problemas que a minha geração não conseguiu. É a cidade o ninho em que devem ser acalentados os passos para um novo pacto entre a humanidade e a natureza. Sem isso, os prenúncios não são os melhores.
(*) É Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
Imprensa Renato Nalini