Antonio Delfim Netto (*)
Tenho insistindo que a condição inicial para realização das promessas eleitorais do Presidente Lula é o restabelecimento da confiança dos credores internos e externos na administração da política econômica. Nesses primeiros dias os sinais de volta da confiança são animadores: as pessoas começam a acreditar que a nova equipe econômica conhece o “caminho das pedras” e está determinada a reverter a marcha ascendente da inflação e a garantir o nível de superávit primário necessário para estabilizar a relação Dívida Líquida/PIB. Mais interessante é que pretende alcançar esses resultados de forma realista e bem mais inteligente do que vinha sendo feito: no caso da inflação, libertando-se da camisa-de-força do calendário gregoriano e buscando atingir as metas em prazos mais realistas; e, no ajuste fiscal, produzir o superávit através de cortes efetivos dos gastos do governo e não nas manobras de “boca-de-caixa”, o que na verdade representava uma forma de transferir o problema, alimentando a desconfiança dos credores.
Nos meses que antecederam o pleito presidencial tentou-se por vários meios exacerbar aquela desconfiança até o ponto de afugentar eleitores com a “certeza” que a vitória da oposição produziria o caos financeiro. Esse tipo de terrorismo ajudou a aumentar a volatilidade nos mercados de câmbio e empurrou alguns degraus acima a taxa de inflação. Só não teve conseqüências mais graves graças à credibilidade das garantias do candidato Lula, neutralizando o impacto terrorista sobre as expectativas econômicas. Ao final, a esperança derrotou o medo.
Entronizado o novo governo, o ministro Palocci e sua equipe não se deixaram cair na tentação de renegar os enunciados da política anterior (corretos, nas circunstâncias, embora de ineficiente execução) e com afirmações sensatas deram uma contribuição decisiva para desarmar as expectativas negativas sobre o comportamento da economia este ano. Em lugar de multiplicar por menos 1 o que vinha sendo feito (como parecia desejar a ala jacobina de seu Partido), iniciaram discretamente a correção de rumos da política, o que já se reflete no clima de confiança que aos poucos vai sendo construído.
É com essa ação inteligente que se vai reconquistar a credibilidade capaz de dar sustentação à nova política defendida pelo candidato Lula em sua campanha e que proporcione ao longo de seu mandato: crescimento econômico robusto, com preços estáveis e sem criar problemas de solvibilidade nas dívidas interna e externa. É a realidade dessa política que vai recuperar os empregos e matar a fome dos brasileiros.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br
