(*) Daniel Muniz
Normalmente, e até nas definições dicionarizadas, confundem-se os conceitos de culpa e responsabilidade. Esta última é tida como uma obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros. Enquanto a culpa é caracterizada como a forma de cobrir algum dano causado a si ou outrem; falta contra o dever jurídico; emoção penosa de auto-rejeição por ter descumprido uma norma ou compromisso social; qualquer transgressão religiosa (pecado).
É interessante verificar que na responsabilidade o referencial é interno, com um posicionamento pessoal no sentido de responder pelas ações. Contudo, quando se pensa na culpa, limitam-se as ações a pedir perdão ou a arrepender-se, deixando de lado a conduta ideal, buscadora da eliminação daquele tipo de erro, de novos modos de agir, da solução para o problema, e da produtividade assistencial para consciências em situações similares à vivida.
Na culpa geralmente os limites são dados de fora, da moral social, da legislação, dos dogmas, posicionando o indivíduo, ou a consciência, em uma pseudo-incapacidade de decidir sobre si mesmo. Caracteriza-se assim uma idiotização cultural, com a repressão do raciocínio próprio, do discernimento aplicado e das decisões autodeterminadas. Contudo, a autoculpa é a síntese do assunto: tanto a culpa imposta de fora quanto a autoproferida só são aceitas pela própria pessoa.
Na culpa, pode ocorrer a tentativa de transferir a responsabilidade para algo externo ou para atitudes do passado, sem o esforço pessoal de mudar para melhor no presente. Caso não exista reciclagem intraconsciencial, ou íntima (recin), de nada adiantam sentimentos autodestrutivos pois o presente continuará repetindo desnecessariamente situações anteriores já identificadas e passíveis de superação.
Em muitos casos, a autoculpa decorre também da tentativa inútil de querer agradar a todos, ou seja, do auto-engano ao corromper os próprios modos de pensar e sentir a respeito das coisas (princípios pessoais), mudando de opinião sempre que, de fato ou pressupostamente, considera alguém contrariado.
Enquanto não ocorre a mudança de postura, a consciência permanece vítima de si mesma, em um sofrimento desnecessário. A atitude responsável, no caso, surge com o predomínio a autogestão, da autoconfiança e da autodeterminação. Importante no caso é implantar a autocrítica produtiva, como sugere, dentre outros pontos, o conscienciólogo Waldo Vieira na página 557 do livro Homo sapiens reurbanisatus: Qual a causa? Quais os envolvidos? Quais os efeitos? Qual a conduta saneadora? Como prever e tratar a reincidência? Quais os efeitos sadios desta análise?
(*) É jornalista e professor de Conscienciologia. (iipc.araraquara@gmail.com ou www.iipc.org.br).