Roberto Massafera (*)
Você partiu sem nos avisar, quando a gente menos esperava, com projetos em andamento e planos futuros. Não pude estar presente no seu funeral e sequer na sua missa de 7º dia, que serve para abraçar os parentes e amigos que ficam. A nossa jornada passa a ser mais solitária, sem a sua presença como grande Tribuno, leal mas temível, como orador catilinário, advogado e criminalista, grande ator no Júri, político, esportista e amigo.
Quem sai de baixo e cresce pelos seus esforços e méritos , à medida que sobe, sempre acha que já foi além da sua aspiração, mas sempre reconhece toda a ajuda recebida na sua escalada pelo sucesso. Podemos dizer que muitas pessoas devem as suas vitórias, aos obstáculos que tiveram que superar.
Você sempre se orgulhou em dizer a alegria do seu emprego de aprendiz, fazendo faxinas , servindo café e aprendendo a arte do escrivão cartorário. Bons exemplos não lhe faltaram: Dorival Alves, Antonio Di Nardo, Waldomiro Blundi, Waldomiro Acetozi, Milton Amaral, Caramuru Fonseca Nascimento, Ruy Alves, e muitos outros. Fez carreira como escrivão e ajudou muita gente de todas as maneiras. Quantos protestos você não segurou na gaveta até a ameaça de intervenção pelo juiz corregedor? Quantos cheques sem fundo você segurou do Banco de Minas Gerais e outros?
Eleito vereador com 19 anos em 1.955 foi infernal na oposição à 1ª gestão de Rômulo Lupo. A câmara Municipal, com suas sessões transmitidas pela Rádio Cultura era um verdadeiro espetáculo circense. Da minha casa na Av. Espanha, onde hoje é o estacionamento do Banco Itaú, ouvia-se o espetáculo: Você e o Waldemar De Santi , comandando a oposição. Minha mãe ficava chocada com as falas e o barulho. Nós, jovens nos orgulhávamos do nosso amigo vereador e você nos dizia: “Aos 12 anos de idade você não vota, mais daqui a 6 anos será meu eleitor”.
Já na gestão do Benedito de Oliveira você tornou-se o seu braço direito e era o grande líder do Prefeito na Câmara Municipal. A partir daí, sempre comandou a política e exerceu profunda liderança nos vereadores. Fornou-se advogado, diplomando-se em Bauru e iniciando suas atividades profissionais.
Não podemos esquecer sua participação na revolução de 1964, onde você, o Dr. Otávio de Arruda Camargo e o Jorge Bedran orientaram o IPM- Inquérito Político Militar de nossa cidade e não permitiram que ninguém e nenhum estudante da Faculdade de Filosofia de Araraquara fosse preso ou enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Eu não posso esquecer quando no dia 7 de setembro de 1.966 nos porões do DOPS, em São Paulo, onde preso e incomunicável, você usou a amizade do Governador Carvalho Pinto e Cel. Erasmo Dias para visitar-me e planejar me transferir para um hospital por motivos de saúde.
Nosso candidato a Prefeito em 1.968, com idéias jovens e idealistas, perdemos para a experiência e poder econômico e Político de Rubens Cruz, que foi apoiado por Rômulo Lupo.
Em 1.972, numa jogada política toda especial, lançou Rômulo Lupo como candidato a Prefeito e foi seu vice contra a candidatura única de Clodoaldo Medina. Todas as forças políticas de Araraquara se uniram e perdemos por pouco mais de 2.000 votos.
Essa derrota política o levou para o Mato Grosso, em Alto Garças, onde exercendo a profissão de Advogado, consolidou sua vida como profissional e fazendeiro. De Jataí (GO), até sua fazenda era apenas mais 500 km, e a Cristina muitas vezes guiava, para irmos passar um fim de semana com você, sempre na esperança de achar diamante nas suas terras. Hoje a soja já chegou lá, e a valorização das terras foi brutal.
No seu retorno à Araraquara exerceu sua profissão e consagrou-se como grande criminalista.
Voltou à Câmara, ajudou-me na minha gestão de 1.993/6 e foi candidato a deputado estadual. A derrota na eleição de 2.000 apenas aguçou o seu desejo de retornar em 2.004 e ainda ser Presidente da Câmara Municipal.
Nosso trabalho este ano para eleger o Coca e o Dimas Ramalho foi um sucesso. Somente erramos na previsão dos coeficientes eleitorais necessários. Mostramos a nossa força unidos. Para nossa surpresa, fez discursos pelo Geraldo Alckmin e pelo José Serra.
Agora temos que continuar no segundo turno, sem você. O nosso palanque ficou mais vazio, apesar dos novos companheiros que ganhamos e que você ficaria muito feliz em tê-los conosco.
Para nós resta continuarmos a jornada, usando o saldo em conta corrente dos dias que nos foram dados. No Futuro, novamente nos encontraremos e continuaremos com o nosso sonho e trabalho para a construção de um mundo mais justo e fraterno para todos, para todos.
Até logo!
(*)Amigo de Flávio Ferraz de Carvalho.