Antonio Delfim Netto (*)
O grupo Votorantim, comandado pelo Dr. Antônio Ermírio de Moraes tem dado inequívocas demonstrações de sua confiança no desenvolvimento brasileiro. Nos últimos três anos investiu perto de 3 bilhões de reais, exatamente quando uma boa parte do empresariado industrial segurou os investimentos enquanto decidia se valia ou não a pena continuar produzindo no Brasil. As atividades do grupo são bem diversificadas, pois compreendem a fabricação de alumínio, papel, celulose, cimento e até mesmo a produção própria de energia. Um investimento mais recente resultou na ampliação da produção de alumínio que vai permitir elevar as exportações do grupo a 1 bilhão de dólares anuais.
Numa entrevista publicada nas páginas amarelas da revista VEJA (edição de 05/11/2003) Dr. Antônio Ermírio falou algumas grandes verdades, apontando os fatores que retardam a retomada do desenvolvimento econômico no Brasil: uma enorme carga tributária e a incompreensão dos governos em relação à dimensão do problema; taxas de juros insuportáveis que tornam os empreendimentos extremamente custosos, bloqueando as decisões de investimento nos setores produtivos; e a permanência irritante de uma burocracia que atrapalha o crescimento econômico, tolhendo a iniciativa empresarial e que infelizmente permanece a mesma, sai governo, entra governo.
As dificuldades apontadas pelo Dr. Antônio Ermírio na entrevista retratam os problemas reais da economia brasileira, enumerados por alguém que tem autoridade para dizer ao governo essas verdades, pois não recuou diante dos altos riscos e realizou os investimentos necessários para expandir a produção. Ele mostrou inclusive que só aqueles que foram capazes de acumular recursos próprios é que mantém a capacidade de investir.
Suas críticas, portanto, merecem respeito e devem ser recebidas como uma contribuição muito lúcida para a compreensão dos problemas reais que a indústria brasileira continua enfrentando. São fatores que afetam não apenas as grandes empresas industriais, como observou o Dr. Ermírio na entrevista ao se referir aos entraves burocráticos que “criam obstáculos quase intransponíveis para quem quer tocar um pequeno negócio”. E todos sabem que isso se aplica aos negócios de todos os níveis, nos mais diversos setores da atividade empresarial no Brasil .
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br